A APACEP (Associação de Pais e Amigos das Crianças Especiais de Poções), foi fundada no ano de 2012 por pais e mães de crianças com deficiência que se deslocavam constantemente para Vitória da Conquista levando seus filhos para fazer fisioterapia.
Uma das fundadoras da Apacep é Noélia Meira, técnica em enfermagem, mãe de uma menina com paralisia cerebral e atual presidente da Apacep. Noélia Meira, que está desde a fundação à frente da associação lutando por uma qualidade de vida melhor para crianças especiais do município, conversou com o Site Coreto sobre os projetos, as dificuldades e a atuação da Apacep no município. Leia a entrevista completa!
1. Como APACEP surgiu? O que motivou a sua criação no município?
Apacep surgiu a partir de um diálogo de mães e pais viajando para outro município para poder buscar a reabilitação para os filhos. Em uma dessas viagens, nas nossas inquietações por não se conformar de ter que buscar a reabilitação em outros municípios, resolvemos nos reunir e buscar aqui para cidade de Poções uma reabilitação para os nossos filhos. Reabilitação de qualidade que todos pudessem ser contemplados.
2. Como a associação funciona atualmente?
A Associação funciona mais ou menos assim: somos os pais e as mães, e convidamos profissionais voluntários para poder nos ajudar, temos fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos, pedagogos e educador físico. Ou seja,vários profissionais que abraçaram a causa e estão nos ajudando.
3. Quais conquistas já tiveram por conta da associação?
A partir do momento que fundamos a Apacep na cidade de Poções, nós lutamos para que o município pudesse ofertar o processo de reabilitação para os nossos filhos. Na época, nós nos reunimos com vários secretários, buscamos através da Secretaria de Educação e conseguimos um centro de reabilitação para a cidade de Poções, que até então não existia fisioterapia para crianças, somente para adultos. Foi a partir desse diálogo com os secretários que nós conseguimos o CMAEEP (Centro Municipal de Atendimento Educacional Especializado de Poções).
Hoje é uma conquista para nós da associação ter o CMAEEP e ver acontecendo os atendimentos em Poções. Nós lutamos muito, dialogamos muito com o governo da época e até hoje continuamos, a cada gestão, estamos buscando e dialogando para que o serviço possa ser mantido sempre.
4. Como o projeto se mantém, recebe algum apoio financeiro?
Nós ainda não temos sede própria, contamos com ajudas e fazemos campanhas em prol da construção da sede. Desde o início, quando nós criamos a Associação, nós colocamos que nós queríamos um algo a mais para os nossos filhos. Já temos o CMAEEP, que é ofertado pelo município e hoje nós fazemos campanhas, rifas para que a partir do momento que consigamos construir a sede da Associação possamos oferecer uma hidroterapia para as crianças. Com piscina e água morna e adaptada para elas.
Hoje nós temos a equoterapia. A associação tem dois cavalos, que são mantidos por nosso amigo Ranulfo que cuida deles em um sítio que também é cedido, em um espaço que fica próximo a Adcap – Poções.Temos outro amigo que doa a ração para os cavalos que é Aleno da Cabana do Fazendeiro.
E nós enviamos, neste mês de maio, os quatro profissionais voluntários para fazer um curso de equoterapia em Salvador, para que assim, possamos implantar, de forma adequada e estruturada, a equoterapia aqui no município.
5.Caso alguém queira ser um voluntário, como faz?
Nós estamos abertos para receber ajuda de vários profissionais, inclusive de outros municípios. Alguns já estão abraçando a causa, principalmente agora que nós estamos voltando com o projeto da equoterapia, mas também precisamos de equipe de apoio.
Já iniciamos o projeto da equoterapia aqui, mas não demos continuidade. A fisioterapeuta que tinha aqui em Poções me apresentou o projeto da equoterapia, eu queria da hidroterapia, pois minha filha fazia hidroterapia em Conquista. O pessoal quis fazer, só que o custo era muito alto, então eu pensei: “vamos abraçar a causa e vamos lutar para que possamos construir uma piscina aqui em Poções”, mas o custo também é muito alto.
Essa minha amiga, que era fisioterapeuta, disse: “Noélia a equoterapia não tem um custo muito alto”. Ela já tinha ido em São Paulo, já tinha feito o curso de equoterapia e foi aí que a gente conseguiu a doação dos cavalos e demos um pontapé. Só que ela acabou desistindo e indo embora para São Paulo devido ao município e a questões de emprego, ela foi em busca de melhorias para ela. Paramos por dois anos, durante a pandemia, mas a gente não parou de cuidar dos cavalos.
6. Agora com a os baixos números de casos da covid-19 , o projeto vai voltar?
Pretendemos retornar com o projeto, com as atividades da equoterapia agora em julho de 2022.
7. A associação já conseguiu uma nova fisioterapeuta para vaga da profissional que foi para São Paulo?
Sim, já temos outros profissionais. Conseguimos, através de diálogos com a Secretaria de Educação, dois profissionais que são do quadro da secretaria, uma fisioterapeuta e uma pedagoga. Temos também um psicólogo que já atuava com a outra fisioterapeuta, o Bismarck, ele ajudou muito na época e adquiriu um pouco de experiência. Para o retorno, nós contaremos com o trabalho dele, um educador físico, a Ivaneide e a Shirley que são da secretaria de educação.
Com o acordo com a secretária de educação, eles serão os profissionais cedidos pelo município, que substituirão os voluntários que tínhamos, por pelo menos um dia na semana, para nós na fisioterapia e para a equoterapia acontecer.
8. Qual a importância do trabalho voluntário para esse projeto?
Para a Apacep – Poções existir é um desafio, porque são pais e mães de crianças com deficiência, então a maioria dessas pessoas abdicaram da sua carreira e do trabalho para poder se dedicar a qualidade de vida dos seus filhos, e a partir do momento que a gente tomou consciência de que nossos filhos precisariam de uma reabilitação para a vida toda, resolvemos não nos conformar, porque sempre há uma esperança. Não existe cura para a paralisia cerebral, mas existe tratamento, existe fisioterapia. Por isso, queremos, no município de Poções, ofertar para os nossos filhos esta melhor qualidade de vida, através da equoterapia e da hidroterapia. O município já oferece os serviços do CEMAEEP, mas nós queremos ir além, além do que os nossos filhos merecem, porque todos são guerreiros e guerreiras da Apacep.
A Apacep existir na cidade de Poções já é um desafio, e se torna também um desafio para nós nos reunirmos todo mês, porque a maioria dos pais, às vezes, não tem com quem deixar os filhos, às vezes não confia ou não consegue alguém para ficar, então é um desafio para nós nos reunir a cada mês. É por isso que nós precisamos da ajuda desses parceiros.
9. Quantas famílias fazem parte da Associação?
No momento, são 130 famílias associadas, todas do município de Poções, incluindo a sede e a zona rural.
10. Qual a importância da associação para o município e para os pais de crianças especiais?
A Apacep, independente de cor, religião, classe social ou questões político-partidárias, nós lutamos para que todos sejam contemplados. A partir do momento que nós nos unimos, podemos dividir experiências em nossas reuniões, onde acontecem as palestras e trocamos conhecimentos para que um possa ajudar ao outro. Independente da deficiência do filho, nós sempre discutimos e sempre procuramos está apoiando o outro, e é esse apoio que nós vamos buscando nos encontros de interações que acontecem, nas reuniões mensais que acontecem com as palestras para os pais. A cada semestre nós realizamos encontros de interação social com todos os pais e filhos, onde alugamos brinquedos e fazemos o momento de recreação com eles para que eles possam interagir ainda mais e possam socializar também, o que é importante para o desenvolvimento deles.
11. Qual a maior dificuldade para a manutenção do projeto?
A maior dificuldade é que nós não temos sede ainda. Nós precisamos construir a sede da Associação, para isso estamos aguardando a doação do terreno, para que seja concretizado na prática a construção da sede.
12. Por não ter uma sede, onde onde os pais e apoiadores do projeto se reúnem?
Reunimos em local cedido, no momento estamos nos reunindo no Centro Cultural Desportivo, ao lado da escola Alexandre Porfírio, todo último sábado do mês, às 15 horas.
Conheça a Associação de perto através do @apaceppocoes.
Fotos: Arquivo Pessoal