A falta de acessibilidade a medicamentos é um desafio global que impacta negativamente a saúde pública. Barreiras econômicas, desigualdades sociais e políticas de saúde inadequadas contribuem para a inacessibilidade, resultando em dificuldades de obtenção do tratamento.
Um levantamento divulgado em março de 2023 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o Brasil como um dos países com maior quantidade de desabastecimento de medicamentos para doenças crônicas. Segundo o estudo, o maior aumento neste desabastecimento ligado à falta de matéria prima e problemas na produção foi registrado entre os anos de 2019 e 2022, em que os casos dessas doenças subiram em 200%. O relatório destaca ainda que esta escassez está atrelada principalmente à Covid-19, fator que desestabilizou a oferta de medicamentos.
Em Poções, pessoas que precisam de medicamentos controlados e para doenças crônicas enfrentam diariamente as dificuldades para consegui-los gratuitamente nas unidades conveniadas ao Programa Farmácia Popular do Brasil (PFPB) no Município.
Natália Campos, dona de casa de 39 anos, precisa pegar medicamentos todos os meses na Farmácia Popular, porém, convive com a burocracia e a constante falta de remédios nas unidades do município. Natália Campos toma remédios controlados e, segundo ela, quando acabam é necessário fazer uma consulta com um médico para conseguir uma nova receita, pois sem ela, o medicamento não é liberado. “Por ter que tomar certos remédios, eu não posso deixar eles terminarem para pegar outros e conseguir a receita novamente é bem difícil. Isso acaba, infelizmente, afetando minha saúde”, conta ela.
Diego de Jesus Queiroz, gerente de uma das unidades da Farmácia Popular em Poções, afirma que os remédios que mais faltam para a distribuição, são justamente os remédios controlados. “Esses remédios têm uma demanda maior, porém não podemos liberar eles”, diz. De acordo com Diego Queiroz, quando acabam, os remédios levam de dois a três dias para serem reabastecidos na farmácia, um período de tempo que as pessoas que necessitam desses tipos de medicamentos não podem esperar.
Apesar disso, Diego Queiroz afirma que quando acontece, o desabastecimento de remédios é momentâneo. “Existem também as dificuldades, geralmente com a falta de insumo o medicamento acaba demorando mais. Porém, na maioria dos casos é temporária”, diz. Para ele, o desabastecimento de medicamentos vem aumentando com o passar dos anos. “Se formos comparar com quatro ou cinco anos atrás vimos o quanto mudou, alguns medicamentos não são mais fabricados, também existe o problema do transporte dentre vários outros”.
Para Natália Campos, quando os medicamentos necessários estão em falta, não há outra alternativa se não comprá-los. “Isso é ruim pois eles são caros e na maioria das vezes não consigo comprar todos”, afirma a dona de casa. Ainda que existam outras dosagens, a substituição desses remédios para pessoas com doenças crônicas não é permitida. “Não podemos substituir dosagens de hipertensos, diabéticos e alguns tipos de antibióticos. Só mesmo analgésicos que podemos substituir dosagens”, afirma Diego Queiroz.
Mesmo com a escassez de medicamentos temporária, as farmácias seguem regras para tentar manter o abastecimento. “Antes de terminar um medicamento temos um caderno de faltas que colocamos o nome do medicamento nele, e fazemos a reposição do mesmo para que possa chegar antes mesmo de terminá-lo”, afirma Diego Queiroz. Para Natália Campos, é preciso melhorar a organização do sistema de distribuição de remédios, tornando-os mais acessíveis às pessoas que precisam.
A falta de acessibilidade de medicamentos impacta diretamente a saúde da comunidade. Uma pesquisa de 2022, realizada pela Confederação Nacional dos Municípios, comprovou que a cada dez cidades, seis enfrentam a escassez de medicamentos nas farmácias públicas e o desabastecimento é maior na região Nordeste. A partir do mês de julho de 2023, as farmácias populares passaram a disponibilizar novos medicamentos, incluindo anticoncepcionais. Em 2024, também serão disponibilizados absorventes. De acordo com dados do Ministério da Saúde são 29.752 farmácias conveniadas distribuídas em 4.587 municípios. Em Poções, são dez farmácias conveniadas ao Programa Farmácia Popular.
* A matéria foi produzida pelos alunos do Ensino Médio do Colégio Estadual Dr. Roberto Santos como produto final das oficinas do .Con- Núcleo de Educação do Site Coreto e supervisionada pela equipe de jornalismo do Coreto, após as oficinas que foram realizadas entre os dias 18 de outubro e 10 de novembro e entregue em dezembro do ano passado. (Clique aqui e saiba mais sobre o projeto).
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