Lendo o livro, Os Bruzundangas de Lima Barreto, escrito em 1922, no nascer da Res publica brasileira, o autor nos convida a passear de maneira figurada sobre o quiprocó que é a política partidária brasileira, como ela se constitui numa espécie de insanidade coletiva, de patrimonialismo, onde a coisa pública, não é nem um pouco pública, é dos poucos governantes, de como o interesse pelo conhecimento é banalizado. Neste momento da história do Brasil em que estávamos superando monarquias, escravidão legalizada, e tantos aparatos imperiais extremamente perniciosos e excludentes, tiveram os que sonharam com dias melhores. No entanto, saímos de um imperador e caímos nas mãos de generais e depois de coronéis, depois de generais de novo, e depois de tanta gente que ocupa os lugares de poder e se sentem reis e rainhas desfilando seus trajes e seus saltos altos sobre o povo, “de quatro”, bem embaixo dos seus pés.
Os planos de governos, nunca existiram de fato, são textos vazios reproduzindo os sonhos de independência, agora com bem menos pompa, numa escrita chula, sem fundamentos teóricos e sem possibilidades práticas, é só uma pilha de papel ou três páginas de escritas repetitivas, não sei se sinto vergonha ou asco de tamanho desrespeito com o povo.
Continuam distribuindo umas moedas para alguns, a tal da cesta básica para tantos outros, porque o povo só precisa comer nesta época do ano e, ameaçando, trocando os tais favores, comprando votos, se aproveitando da miséria S.A. que permeia os guetos do Brasil, da Bahia e de Poções.
E fazem isso rindo, tirando fotos com criancinhas, pegando nas mãos dos idosos, tomando café nas casas dos pobres, e depois chegando em casa e tomando seus banhos, e se deliciando com banquetes, sem nenhuma culpa, sem nenhum remorso. Quando nos seus lares aconchegantes, com suas mesas fartas, sequer se lembram do escárnio social em que vivemos. Onde vendemos o almoço para comprar a janta, vendemos os nossos corpos, nosso tempo, nossa alma em troca de um aperto de mãos de dois em dois anos.
Crônica escrita pela professora, historiadora e escritora Fernanda Protasio com reflexões pontuais e questionamentos a respeito da politica brasileira.