William Pereira Silva, de 17 anos, é um jovem que se destaca na capoeira poçoense. Neste mês de novembro, o estudante do 2° ano do Ensino Médio foi o campeão da Copa Ginga Itagibá de Capoeira. O interesse de William pela capoeira começou por meio do projeto escolar “Mais Educação”, dirigido pela professora de capoeira Mocinha, e por influências de amigos que praticam o esporte.
Foi por causa dos ensinamentos do mestre e da professora que ele começou a desenvolver mais disciplina e aprender a técnicas que carrega consigo até hoje. “Ao entrar na capoeira, acabei superando, com o tempo, a insegurança em interagir com as pessoas. Além disso, conheci várias pessoas incríveis que se tornaram amigos queridos e que ainda mantenho contato até hoje.”
Com o talento em evidência, William representa a cidade em competições regionais, além de executar um importante papel na perpetuação das atividades de raízes afro. Guiado pelo seu mestre, o estudante demonstra habilidade e muita força de vontade. “Me sinto muito feliz e orgulhoso de representar meu grupo de capoeira e meus amigos, além do meu mestre, em campeonatos. Nunca pensei que chegaria a esse ponto. É um sonho realizado poder compartilhar minha paixão pela capoeira e honrar aqueles que me ensinaram”, conta.
Mesmo já demonstrando habilidades no esporte, o capoeirista é obstinado e focado nos seus objetivos e mantém uma rotina de muitos treinos. “Não tenho muita experiência em campeonatos, mas o último que participei, a Copa Ginga, foi um desafio especial. Tive apenas um mês para me preparar, e nesse curto período, tive que aprender novos movimentos de capoeira, dominar algumas acrobacias e melhorar significativamente meu fôlego. Foi um processo intenso, mas valeu a pena. Agora, estou mais confiante e preparado para enfrentar novos desafios. A Copa Ginga foi um teste importante para mim, e estou ansioso para aplicar tudo o que aprendi no próximo campeonato.”
Capoeira e os frutos da arte afro-brasileira
O Mestre Didi, e também coordenador geral do projeto desenvolvido pela Associação de Capoeira Energia da Terra e Artes Integradas (ACET), em que William faz parte, acredita que o esporte precisa ter mais reconhecimento e valor. “A capoeira surgiu de baixo padrão e hoje está bem representada, nas universidades, academias, nos palcos de grandes eventos culturais e está presente em mais de 150 países. Ganhou o mundo, mas ainda precisa melhorar muito e ser reconhecida pelo poder público como uma ferramenta de educação e inclusão social”, destaca o mestre Didi.
Um papel que a arte cumpre socialmente, é o de conectar e servir como um espaço de manifestação ancestral e resistência. Mestre Didi salienta justamente essas questões que a capoeira tem como objetivos. “A capoeira nos ensina que devemos ter consciência de nossos deveres e direitos, além de resgatar, preservar e dar continuidade a essa herança deixada pelos povos escravizados”.
Como exemplo desses princípios, William destaca a importância que os ensinamentos do Mestre Didi tem para ele, e como esses aprendizados os guiaram até suas conquistas dentro e fora do esporte. “Meu mestre, Didi, é um exemplo inspirador de liderança e dedicação. Ele me ensinou que a capoeira é mais do que um esporte ou arte marcial; é uma forma de vida que transforma pessoas e comunidades. Agora, como campeão da Copa Itagiba, me sinto orgulhoso de representar minha cidade e a Associação Energia da Terra e Artes Integradas”.
Para William, o esporte chegou e mudou a sua vida em diversos aspectos. “A capoeira mudou minha vida de maneira incrível! Além de me ensinar habilidades físicas e técnicas, ela me proporcionou valores essenciais como disciplina, respeito, autoconfiança e comunidade. Com a capoeira, superei minha insegurança em interagir com as pessoas e desenvolvi uma maior autoestima. Conheci pessoas incríveis, como meus amigos Robert e Murilo, com quem compartilho essa paixão”.
Desafios e a valorização da capoeira
A capoeira é uma manifestação cultural afro-brasileira que surgiu por volta do século XVI, criada pelas pessoas escravizadas como uma forma de resistência, luta, manifestação e preservação de tradições ancestrais.
No passado, quem fosse visto praticando a capoeira era sentenciado ao calabouço. Em 1890, a prática ainda era considerada criminosa a quem praticasse ou liderasse rodas de capoeira, e poderia ser condenado a uma pena de seis meses a um ano de prisão, de acordo com Código Penal Brasileiro da época.
Depois de muita luta, resistência e persistência, atualmente, a capoeira é reconhecida como patrimônio imaterial da humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Sendo uma expressão cultural que envolve diversas técnicas como acrobacias, movimentos corporais, canto e instrumentos musicais como o berimbau e atabaque, esses elementos se entrelaçam, tornando a capoeira uma manifestação única de cultura, arte e esporte.
Desde que surgiu, a capoeira enfrenta estigmas devido a sua origem e ainda existe uma falta de reconhecimento e valorização. “O preconceito ainda é muito grande em relação à modalidade da capoeira. Esse é um dos desafios, assim como a falta de reconhecimento pelo poder público e o apoio merecido que precisamos para manter nossa cultura viva”, destaca Mestre Didi.
O jovem William, acredita que, atualmente, os jovens não dão o reconhecimento necessário que a capoeira merece. “Muitos não conhecem sua rica história e cultura. Para mim, a capoeira é mais do que um esporte ou arte marcial; é uma expressão cultural que me ensinou valores como disciplina, respeito e comunidade”.
Com a execução do esporte, muitas melhorias impactaram diferentes áreas da vida de William. “Quando comecei a praticar capoeira, eu era tímido e inseguro. Mas, com o tempo, ela me ajudou a superar esses obstáculos e a desenvolver minha autoestima. Além disso, conheci pessoas incríveis com quem compartilho essa paixão”.
William acredita que a realização de iniciativas, como o projeto que participa, podem ajudar na valorização da capoeira. “Acho que é importante que os jovens descubram o valor da capoeira e sua contribuição para a cultura afro-brasileira. É preciso investir em projetos que promovam a capoeira e valorizem sua importância para a sociedade”.
O estudante e capoeirista se considera um grande exemplo das mudanças que o esporte pode fazer na vida de alguém. “Eu sou um exemplo vivo de como a capoeira pode transformar vidas. E quero inspirar outros jovens a descobrir seu poder”.
Sonhos e perspectivas
Mestre Didi destaca os quesitos que gostaria que fossem mudados em relação a capoeira. Para ele, falta investimento e reconhecimento. “Gostaria que a sociedade e o poder público valorizassem mais a nossa arte marcial brasileira. Todos os outros países têm suas modalidades de artes marciais e são bem valorizadas. Por que a capoeira ainda precisa passar por isso? A capoeira é patrimônio material, e a roda de capoeira é patrimônio imaterial. Recentemente, a capoeira se tornou lei nas escolas estaduais. Agora, só falta as autoridades tirarem do papel e colocarem em prática para que nossa arte cresça de forma positiva”.
Já para William, suas perspectivas são grandes. Sem medo de sonhar, o capoeirista conta sobre seus propósitos. “Meus sonhos e objetivos dentro da capoeira são ambiciosos, mas alcançáveis. Como competidor, meu maior sonho é chegar ao nível de competir com os melhores capoeiristas da Bahia e do Brasil. Quero testar minhas habilidades e conhecimentos contra os melhores do país”.
O jovem destaca ainda seu intuito de permanecer focado e melhorar sua atuação. “Como praticante, meu objetivo é continuar aprendendo e aprimorando minhas técnicas. Quero dominar novos movimentos e melhorar meu condicionamento físico. Mas, além disso, tenho um sonho maior: compartilhar minha paixão pela capoeira com os outros. Quero dar aulas de capoeira e incentivar outras pessoas a começarem a praticar. Acredito que a capoeira tem o poder de transformar vidas e quero ser um agente dessa mudança”.
Mas para que suas expectativas se cumpra, William está empenhado em traçar uma rota destinada ao foco. “Para alcançar esses objetivos, estou disposto a trabalhar duro e dedicar tempo e esforço. Estou ansioso para ver onde a capoeira me levará e como posso contribuir para a comunidade capoeirista”.