Candidatos a prefeitura de Poções apresentam projeto cultural destinado a cidade no Ceará

Os planos de governos de todos os candidatos a prefeitos de Poções apresentam erros ortográficos e inconsistência de algumas propostas
Por Raquel Rocha
Publicado em 05/09/2024

Os planos de governos de todos os candidatos a prefeitos de Poções apresentam erros ortográficos e inconsistência de algumas propostas

Com o início do pleito municipal de 2024, os candidatos iniciaram suas campanhas para convencer o eleitorado poçoense sobre suas propostas de governo na intenção de garantir votos. Um dos documentos obrigatórios mais importantes para que a população escolha seus representantes, é o plano de governo de cada candidatura. 

Os planos de governo, como o próprio nome sugere, vão além das aspirações de um candidato que estão impressas em papel ou apresentadas em uma plataforma digital. Eles representam, na verdade, estratégias que abrangem tanto o curto quanto o longo prazo. Inicialmente, devem considerar o período de quatro anos para a implementação de políticas públicas, mas também devem contemplar uma visão a longo prazo, que pode se estender para a manutenção do governo atual ou para futuros candidatos.

De acordo com o cientista social Mateus Santana, um dos principais problemas da política brasileira é que muitos planos de governo não são elaborados com uma visão de longo prazo. Além disso, as políticas públicas, muitas vezes, não são pensadas para garantir uma continuidade eficaz, frequentemente refletindo apenas as visões pessoais do candidato, sem uma abordagem mais abrangente e estruturada.

“Quando analisamos um plano de governo, a primeira coisa que temos que pensar é justamente que esse plano não foi elaborado por uma pessoa só, pelo menos não deveria ser. Ele precisa ser pensado estrategicamente por uma equipe que entende de gestão pública, considerando as aspirações do partido, das coligações partidárias, e claro, as demandas do eleitorado. Em resumo, essa equipe elabora um plano de gestão da máquina pública, que no caso do município, é a prefeitura”, afirma

Planos de governo das candidaturas a prefeitura de Poções

Em Poções, Dona Nilda (PCdoB) e João Bonfim (PT), buscam a reeleição após quatro anos à frente do executivo municipal. Luciano de Tonhe Gordo (PSD), que já ocupou o cargo de prefeito entre 2008-2012, tenta retornar ao executivo, juntamente com o vice Dr. Yuri (PSD), que concorre pela primeira vez em uma eleição. A outra novidade, que se apresenta como terceira via – dado o histórico de alternativas de poder entre as outras duas coligações -, são os candidatos a prefeito e vice, Diogo Chulu (Novo) e Ivano Cunha (PL), respectivamente. 

O Coreto analisou os planos de governo das três coligações candidatas e encontrou erros consideráveis. Uma das propostas mais controversas está no plano da coligação “Juntos por uma nova Poções!”, de Diogo Chulu (Novo) e Ivano Cunha (PL), em que propõem a “implantação de escolas teatrais no Teatro das Ribeiras dos Iscos”. 

Candidatos apresentam proposta para município cearense. (Foto: Plano de governo Novo/PL/TSE).

No entanto, a proposta é impossível de ser executada em caso de eleição dos candidatos, considerando que o Teatro das Ribeiras dos Icós – e não Iscos, como está escrito no documento -, está localizado na cidade de Icó, no Ceará, há 359 km da capital Fortaleza e a 1.045 km de Poções.

O Teatro das Ribeiras dos Icós foi o primeiro teatro construído no Ceará, em 1860, sendo um símbolo da história, da cultura e da identidade do povo cearense. Com seu estilo neoclássico, o edifício histórico já passou por diversas transformações ao longo dos anos. Em 1983, foi tombado pelo Iphan como patrimônio histórico e artístico. 

Já nas propostas para a categoria “Assistência social, Habitação e Renda”, os candidatos visam a “criação de ONGS no anseio de poder resgatar animais de rua, promovendo a castração dos mesmos para melhor qualidade de vida dos animais e da saúde”

ONGs não podem ser criadas pelo governo municipal. (Foto: Plano de governo Novo/PL/TSE).

No entanto, como a sigla sugere, as ONGs (Organizações Não Governamentais) são entidades privadas, sem fins lucrativos, que atuam em diversas áreas da sociedade com o objetivo de promover o bem comum. Elas não podem ser iniciativas do governo, mas podem atuar em parceria com o Estado para alcançar seus objetivos.

O que pode ser visto como um equívoco, revela, como aponta o especialista, uma prática comum no Brasil, de instrumentalização da política pelo populismo, com discursos que oferecem facilidades. Ou seja, muitos candidatos propõem soluções “fáceis demais” para problemas complexos. Um dos exemplos mais conhecidos na política brasileira é a questão da segurança pública, muito presente nas falas de políticos populistas que garantem a redução da violência com a “morte dos bandidos”, medida que, na prática, não resolve o problema em sua raíz. 

“Sabemos, por exemplo, que é evidente que o problema de animais abandonados é algo geral em todo o país. Qual que é a solução para isso se eu tenho um candidato me dizendo que a solução para isso é criar uma ONG? Eu percebo que ele não está pensando em como a prefeitura pode responder a uma demanda que é de saúde pública também. Se houvesse uma estratégia efetiva nesse plano, ele poderia propor uma estratégia em que a máquina pública tivesse condições de gerir esse problema. Por exemplo, o próprio município fazendo a implementação de um hospital veterinário que esteja ligado também a um abrigo municipal”, destaca o cientista social. 

Os planos de governo das outras duas coligações apresentaram erros que indicam falta de adequação de sugestões de propostas na redação do texto, a exemplo da proposta que visa a criação de uma Secretaria de Cultura e Lazer, em caso de eleição dos candidatos Luciano de Tonhe Gordo (PSD) e Dr. Yuri. (PSD). 

Proposta aponta falta de correção e adequação de sugestão feita aos candidatos. (Foto: Plano de governo PSD/TSE).

Já o documento com as estratégias de governo da atual prefeita e vice-prefeito, Nilda Magalhães (PCdoB) e João Bonfim (PT), chama atenção pela grande quantidade de propostas em que as aplicabilidades não estão claras.

A proposta não deixa claro qual o padrão de qualidade a ser implementado, nem como será efetivado na prática. (Foto: Plano de governo PCdoB/PT/TSE).

Plano participativo e estratégias eficientes 

Um plano de governo deve ser elaborado de forma integrada, onde as diferentes áreas, como educação e saúde, estejam alinhadas entre si para evitar contradições e garantir sua viabilidade a longo prazo. Ou seja, a falta de planejamento adequado pode resultar em dificuldades na implementação das políticas públicas propostas, impactando negativamente outras áreas do governo devido à falta de uma gestão eficiente e coordenada.

“Se um plano apresenta erros ou falta de coordenação entre as equipes responsáveis, isso pode indicar uma ausência de curadoria cuidadosa, comprometendo sua implementação. Além disso, o plano de governo serve como um guia tanto para o candidato quanto para os eleitores, permitindo que estes últimos cobrem a realização das promessas feitas durante a campanha”, destaca Mateus Santana. 

Consultar a sociedade civil para construir políticas públicas, que de fato atendam às demandas da população, é um dos caminhos possíveis para planos de governos mais efetivos, estratégicos e representativos. Afinal, esse tipo de iniciativa, já implementada por alguns partidos e coligações, convida a população para contribuir com suas opiniões, sugestões e demandas, ajudando a definir prioridades e a construir soluções para os problemas enfrentados pela sociedade.

“Acredito que o eleitorado deva começar a pensar na seriedade de como essas políticas são pensadas para que a gente perceba se elas podem ser implementadas de fato”,  afirma o sociólogo. 

Relacionados

Pular para o conteúdo