Músicas, danças e fantasias, muitas vezes engraçadas, criativas, coloridas e com muito brilho são características de uma das festas mais esperadas de todos os anos, o carnaval. Após dois anos de hiato, causado pela pandemia do vírus Covid-19 que impediu a realização de eventos por todo o mundo, o carnaval está de volta por todo Brasil para a alegria dos foliões.
A Bahia realiza um dos maiores carnavais do planeta, em sua capital Salvador, mas a tradicional festa também é realizada em diversas cidades do interior do estado. Em Poções, há registros das festividades de carnaval realizadas desde a década de 1960, época em que a festa era animada pelas tradicionais marchinhas de carnaval e as fantasias eram, em grande maioria, improvisadas.
Apesar de não ser uma tradição de todos os anos na cidade, a realização do carnaval marcou gerações e deixou fotos, histórias, lembranças e saudades.
O trio da Banda Maracujá
O locutor Orlando Miranda de 73 anos lembra da época em que realizou o Carnaval em Poções, durante a gestão do prefeito Eurípedes Rocha Lima. Era final da década de 1980, Orlando Miranda, acompanhado por um grupo de amigos decidiram fazer um trio carnavalesco para que as pessoas pudessem brincar o carnaval em Poções junto a outros blocos, e assim surgiu o Trio Maracujá.
“Realizamos um sonho que foi montar um carro velho, um Ford, conseguimos colocar todos os equipamentos, caixa de som amplificada, microfone enrolado de borracha. Eu sei que fizemos um trio com a banda, e chamava-se Banda Maracujá”, conta Orlando Miranda. A banda era formada por Diva no baixo, Carlinhos Tripa e Marcelo na percussão, Cafifa no teclado, Osmar na guitarra baiana, Dedé na guitarra, e Bequinho nos vocais entoando todas as marchinhas de maior sucesso na época. Toda a realização do Trio Maracujá ficou por conta de Vilmar Schettini, conhecido como Vilmar Coxinha que também tocou bateria na banda. “E eu só animava a festa”, conta Orlando acrescentando que foi justamente nessa época em que ele começou sua carreira como locutor.
Orlando Miranda já participou de outros carnavais na cidade, mas afirma que o carnaval do Trio Maracujá, foi o que mais o marcou. “Reunimos os músicos de Poções, aqueles mais velhos, e os mais jovens e fomos para cima do trio. Nós puxamos oito dias de trio na rua, de quarta-feira até Quarta-feira de Cinzas nós brincamos o carnaval”. Para ele, esse trio e a lembrança do sucesso de vários dias de festa, com muitas pessoas nas ruas, “são relíquias da história do carnaval em Poções”.
Da infância à juventude
Ao longo dos anos, o carnaval em Poções vem se transformando, e muitas pessoas tiveram experiências diferentes, crescendo com a presença da festa na nossa cidade. Elma Santana relembra o carnaval no Clube Recreativo de Poções, que naquelas décadas era conhecido como Clube Social. “No final dos anos 70, eu participava do Matinê no carnaval do Clube Social, onde acontecia a Matinê para as crianças, à tarde e à noite para os adultos”, conta.
Elma Santana também participou de carnavais na sua juventude, mas para ela o que mais deixou saudade no carnaval em Poções foram as Matinês da sua infância, além da festa de rua pulando atrás do trio elétrico. “Sinto saudade do carnaval no Clube na fase criança, onde íamos com fantasias, apitos e confetes”, diz.
A servidora pública Renata Borges também curtiu o carnaval no Clube Social e relembra nostálgica de ter participado por diversas vezes do carnaval na cidade. “Eram mais ou menos uns três a quatro dias de festa e muita diversão”, afirma.
O carnaval na rua e no Clube foram pontos de encontros de amigos e de famílias que saíam para celebrar juntos, como conta o senhor Geraldo Leoni. “As maiores saudades do carnaval, são justamente as marchinhas que eram mais tranquilas, e podíamos reunir as famílias”.
De todos os carnavais que passou na cidade, o que mais marcou a memória de Geraldo Leoni, foi a vinda do “Trio Saborosa” para acompanhar a folia no interior da Bahia. “Teve um Carnaval aqui que lembro, veio um primeiro trio, um antigo trio elétrico, o pessoal tocando em cima de um caminhão, era o “Trio saborosa” veio tocar aqui em Poções”. O trio se tornou muito popular na década de 1970 e início dos anos 1980, em Salvador.
Os blocos, as fantasias e as marchinhas
Em relação aos blocos que desfilam, ao longo desses anos, em Poções, Orlando Miranda diz que o que mais se lembra é o “Bloco de Vital”. Segundo ele, as fantasias eram baseadas em trajes indígenas, feitos artesanalmente pelos integrantes do bloco “Eram feitas de palha de coqueiro, secava a piaçava também e faziam”, afirma. Já quem não tinha fantasia não ficava de fora, costumavam cortar tiras nas roupas que tinham em casa e ir curtir a festa.
Segundo Renata Borges, os desfiles dos blocos organizados durante os anos 1980 marcaram sua passagem no carnaval Poçoense. “Na época tinham os blocos do ‘Beijo Quente’ e ‘Boka Loka’. Eu participava do ‘Beijo Quente’”. Renata Borges lembra ainda que existiam blocos mais antigos dos quais ela não fez parte, mas lembra de desfilarem no carnaval, como o “Bloco 56” e o “Bloco da Terceira Idade” que ainda estava ativo nos carnavais mais recentes da cidade.
Assim como Renata, Elma Santana também participou de bloquinhos nos carnavais daquela época, como o bloco “Semente 10” que arrastou muitas pessoas para a folia na cidade. Segundo ela, as vestimentas mais utilizadas nesses blocos eram os abadás compostos por um short e uma camiseta que levava o nome do bloco. Outras roupas muito comuns nas décadas de 60, 70 e 80 eram as mortalhas de carnaval famosas por serem baratas e práticas de fazer, além das clássicas fantasias de Pierrô e Colombina. As pessoas que não saíam de abadá, confeccionavam suas próprias fantasias.
Quanto à música, é indiscutível, as marchinhas estavam na boca do povo e não poderiam faltar. Os maiores sucessos do carnaval no Clube ficavam por conta de artistas da terra, “geralmente tocadas pela banda Furiosa, que era tocada por artistas conhecidos, como Zelinho, Zoma, Arnaldo, Pia Soldado, Toim Faca Doida etc”, conta Elma. Nas ruas, além das tradiconais marchinhas, os artistas da época também faziam sucesso nos desfiles dos trios “Moraes Moreira com músicas como Hino do Bahia, Olhos Negros. Gal Costa, Caetano Veloso com Chuva suor e cerveja e Luiz Caldas com Fricote e Amazona”, lembra Elma.
O Carnaval de Poções nos dias de hoje
Com o passar do tempo, as formas de comemorar o carnaval em Poções foram mudando. Geraldo Leoni fala que a maior mudança percebida foi nas músicas. “Em relação à mudança são justamente as músicas, não é? Vão mudando, a evolução vai chegando e tudo tende a crescer e mudar. Também a maneira das pessoas pularem, as maneiras de agir, tudo”, diz.
Antes da pandemia da Covid-19 as comemorações de carnaval em Poções foram retomadas com festas privadas na extinta Área de Eventos Os Primos, e na Boate Primavera em 2016 e 2017. Além do Carnaval de Marchinhas promovido pela prefeitura na Praça da Juventude nos anos 2017 e 2018 e também na Praça do Divino no ano de 2020.
Um dos blocos que marca presença no carnaval poçoense desde 2017 é o bloco “As Muquilas”. Para Luan Carvalho, um dos organizadores, o bloco nasceu de uma brincadeira com amigos. “Em uma resenha entre amigos no bairro Urbis, surgiu a conversa de fazer um bloco para se divertir em um carnaval fora de época aqui na cidade de Poções, a partir daí começamos a organizar o bloco para sair todos os anos”, diz.
Nos dois primeiros anos do bloco não tiveram tema nem fantasia específica, a única exigência era que os homens saíssem usando roupas comumente usadas por mulheres. Já nos últimos dois anos a fantasia foi padronizada para todos os componentes. “Em 2019 saímos como a Mulher Maravilha e em 2020 com o tema de unicórnio. Fazemos tudo em reunião entre a comissão e lançamos o tema”, afirma Luan.
O bloco reúne em média 200 pessoas da cidade e de municípios vizinhos, para pular o carnaval em Poções. O bloco As Muquilas saiu durante quatro anos seguidos. Porém, como todas as organizações de festas, precisaram pausar as atividades nos dois anos de pandemia. Neste ano, o bloco retorna às atividades para curtir o carnaval de 2023.
Fotos: Arquivo pessoal