De volta à programação da Festa do Divino, Mostra Cultural movimentou a cena cultural poçoense

Por Leila Costa
Publicado em 23/05/2023

A Mostra Cultural é um evento que costuma acompanhar a grade da tradicional Festa do Divino de Poções, que acontece todos os anos no mês de maio ou junho. No ano passado, a Mostra Cultural não fez parte da programação da festa, neste ano de 2023, a mostra voltou com novidades na programação que aconteceu no último fim de semana, no Jardim dos Pássaros, Praça do Coreto. 

Com uma programação diversificada, o evento contou com a participação de artistas de Poções e também de outras cidades da região. No palco, os artistas poçoenses mostraram um pouco de todo potencial cultural que a cidade possui. No teatro, na poesia, no cordel, na dança e na música, nomes como Jocimário Canário, a banda Cinco Contra Um, Vitrolas, Luciano Violeiro, Resistência Cultural e muitos outros agitaram o fim de semana.

Apresentação do cantor Luciano Violeiro

Além disso, a programação também contou com a Feira de Artesanato com exposição de produtos de artesãos locais.

A atriz e licenciada em geografia, Jessica Martins, que esteve no palco em apresentação do Resistência Cultural, destaca a importância do espaço para os artistas da região. “As apresentações foram incríveis e potentes.  Isso mostra o quanto a cidade de Poções e cidades circunvizinhas possuem artistas de excelência. E é importante a Mostra Cultural promover espaço para a diversidade artística, incluindo diferentes segmentos da arte como dança, teatro, manifestação popular, poesia, música, dentre outras. Temas importantes e emergentes também foram abordados nas apresentações”. 

A mudança na data da Mostra Cultural para a semana anterior à programação da Festa do Divino deu um destaque para os artistas que se apresentaram. Para o músico e estudante de cinema, Carlos Porto, a mudança da data foi um ponto assertivo. “O fato dela ter sido feita antes foi ótimo, porque tanto para o consumidor como para alguém que participa da mostra é muito barulho, ter que competir com o barulho do palco principal que é 10, 15 vezes mais potente do que um som da Mostra Cultural e às vezes acontece de ter atrações interessantes nos dois palcos, então as pessoas tinham que ia lá [no palco principal] um pouquinho e voltavam para  cá [Mostra Cultural] e nisso acabavam dividindo a atenção”, diz.

No entanto, a localização do palco foi questionada e criticada por pessoas presentes. Para Carlos Porto, o local destinado para o palco não foi uma boa escolha. Segundo ele, outras praças do centro da cidade poderiam ser uma escolha ou deveriam ter feito um uso melhor do espaço da praça do Jardim dos Pássaros. “O Coreto ficou meio que abandonado. Eu acho que nos outros anos em que foi feito em todo Coreto, ficava melhor, pois você estava na festa, naquela muvuca e queria conversar com alguém, você ia para o Coreto, ia para lá para descansar e aproveitava para ficar vendo artesanato. A festa estava acontecendo lá fora e ali acabava sendo um refúgio”.

Jessica Martins compactua com a ideia. “Penso que poderia ser organizada de forma que proporcionasse maior ocupação do Jardim dos Pássaros, que é uma praça pública importante para nossa cidade”. 

Para a atriz, outras questões na estrutura também precisam ser pensadas de maneira que atendam as particularidades e diversidade das apresentações. “Um microfone lapela, a utilização da iluminação adequada para as apresentações performáticas de teatro, poesia e dança”.

Este ano, além dos artistas da terras, artistas de outras cidades também participaram do evento. Nomes como os das cantoras Marlua e Balaio, do cantor Paulinho Jequié, além do grupo Quinteto do Samba e da banda Caiamar, se apresentaram nas noites do evento. 

Mesmo com o destaque local, artistas da terra ficaram de fora 

O evento também foi marcado pela falta de alguns artistas poçoenses no palco. “Eu gostei das apresentações principalmente pela diversidade de linguagem, mas eu senti falta de muita gente daqui,” conta Carlos Porto. Umas das bandas que não esteve presente no palco da Mostra Cultural foi a banda Afro’z Rap.

Na última quarta-feira (17/05), a banda poçoense, divulgou uma nota em seu perfil no Instagram expondo a insatisfação de seus integrantes diante das diversas situações de desvalorização do trabalho de artistas locais. 

Desta vez a banda foi convidada a compor a programação da Mostra Cultural da Festa do Divino de 2023. O problema é que o histórico da relação das gestões municipais com os artistas da cidade é marcado por profundo desrespeito e enorme descaso daquelas com estes. Não bastassem a estrutura precária e a falta de organização geral, os artistas na maioria das vezes tem que ficar pressionando os representantes da gestão municipal para que os mesmos paguem o minguado cachê que foi combinado”, diz a nota.

Além de citar cachês baixos de apresentações anteriores, a banda denuncia situações que provocaram a descontinuidade de diversos artistas, na grade musical da Mostra Cultural 2023. 

“Além disso, em apresentação no palco principal da Festa do Divino de 2016, a Afro’z Rep e outras bandas também da cidade, foram completamente desrespeitadas ao terem o seu tempo de apresentação comprometido por conta dos atrasos da organização do evento e serem convidadas a se retirarem do palco antes de finalizar seu repertório. Nesse mesmo dia, durante a apresentação das bandas locais, os responsáveis pelos equipamentos de palco aproveitaram para testar o som e a iluminação da atração principal que viria na sequência, prejudicando o trabalho musical e a estética das apresentações. Isso nos revela a pouca importância que é dada aos artistas locais. Podemos somar a esses fatores a inexistência de um plano de incentivo aos artistas da cidade. E quando dizemos isso não nos restringimos à música. Poções é reconhecida na região Sudoeste como um núcleo riquíssimo, em quantidade e qualidade, de representantes das mais variadas linguagens artísticas. No entanto, não temos do poder público qualquer encaminhamento no sentido de estruturar um sistema de apoio e incentivo a essas produções. Muito pelo contrário! Vemos muitas portas fechadas na cara e falta de bom-senso para compreender a grandiosidade da arte poçoense. Das artes plásticas até o cinema, os artistas da cidade sabem bem o quão penoso é buscar o apoio das autoridades municipais para executar seus projetos”, acrescentam.

Sobre o conteúdo da nota, o coordenador de cultura do município, Gildásio Júnior, informou que as questões divulgadas na nota aconteceram antes de sua chegada à Coordenação de Cultura, em anos anteriores. “É  um acúmulo de coisas e eu entendo a posição da banda, apesar de lamentar. Eu gostaria muito que eles tivessem na grade do evento, pela importância do que eles são, do que eles representam para a cultura da nossa cidade, para movimento alternativo”. 

O Coordenador Cultural disse ainda que a coordenação dialoga para melhorar o serviço que é oferecido e ofertar um tratamento melhor para todos os artistas, artesãos e toda comunidade de Poções e que estão à disposição para continuar apoiando e dialogando com todos as iniciativas culturais do município. 

Para o professor e artista integrante da Afro’z Rap, Alan Conceição, a manifestação da banda é necessária para que a arte seja valorizada no município. “Não devemos aceitar migalhas e desvalorização. Ser artista é difícil… Então não vamos nos calar, vamos continuar fazendo arte e lutando por dias melhores para nossa arte”, enfatiza.

Mais espaço para a arte poçoense

O município é culturalmente rico, várias manifestações culturais fazem parte do cenário e a Mostra Cultural é uma oportunidade para a valorização e promoção dessa cultura, no entanto artistas evidenciam a necessidade de mais espaço e investimento na cultura.

Para Jessica Martins, eventos culturais são fundamentais para a propagação da arte poçõense. “É importante, tanto para os artistas que apresentam seu trabalho, quanto para a população que assiste. Por isso, também acho interessante que essa Mostra Cultural aconteça mais vezes no ano”.

Carlos Porto sugere que eventos assim poderiam acontecer mensalmente. “Lá na concha acústica, todo último domingo ou todo primeiro domingo do mês, uma tarde, começar de 5h às 9h”.

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