(EM)viadecendo o (CIS)tema!

Por Dr. Celio Silva Meira
Publicado em 28/06/2023

Vamos direto ao ponto. Quando fui convidado para escrever sobre o mês da diversidade, do orgulho LGBTQIAP+ por este veículo de comunicação que você acabou de acessar, questionei a mim mesmo, o que escrever? O que dizer para seus leitores? Orgulho de que? Diante desse amontoado de perguntas, fiquei pensando, olhando para a tela do computador e “viajei” nos meus pensamentos. Fiz uma imersão em mim mesmo. Caramba! Vou fazer 51 anos de vida. Boa parte desse tempo todo passei aqui nessa cidade, como diz uma famosa frase histórica de Júlio César: “ VIM, VI E VENCI”.  O venci eu ainda não sei. Mas, VIM, com certeza, “VIEMOS”. Viemos em revoadas, em multidões. 

Agora, eu já sei o que escrever, o que dizer aos leitores deste site. E de que nos orgulhamos. Não só o mês de junho é para nós, mês de orgulho, são os outros onze meses também. Afinal, nós (re)existimos todos os dias do ano. Mesmo com todos os preconceitos a nós destilados. 

De modo emblemático, o mês de junho é dedicado a comemorar o mês de nos orgulharmos de ser quem somos. Essa data tem história. Estudiosos como Leandro Colling (2011), Alexino Ferreira (2016), nos conta um pouco sobre essa data: que nas décadas de 1950 e 1960 nos Estados Unidos tinham uma legislação anti-homosexual, já que práticas homossexuais eram consideradas crimes até 1962 em todos os estados do país. Em 1969, ano da revolta, a prática já não era criminalizada, mas muitos estabelecimentos comerciais que eram frequentados por gays e lésbicas eram atacados e perseguidos pela polícia. O bar Stonewall Inn, que ficava no bairro do Greenwich Village, na emblemática cidade de Nova Iorque, na madrugada de 28 para 29 de junho, o que era para ser mais uma batida policial comum, tornou-se em revolta. Um grupo de homossexuais, cansados dos abusos cometidos pela polícia local, se recusou a ser revistado, iniciando um confronto que durou cerca de 4 horas e resultou na destruição do bar.  

Com o fim do bar, um grupo ainda maior de gays, lésbicas e outros se reuniu no endereço na noite seguinte. E já que não havia mais o local secreto para as trocas de afetos, elas começaram a ser feitas em público. A polícia, então, chegou em massa para reprimir a multidão, o que resultou em uma série de protestos e muita confusão. As revoltas duraram 5 dias até que foram totalmente contidas. Assim, a luta da população LGBTQIAP+ por direitos ganhou apoio e visibilidade, de modo que até o final de 1969 muitas cidades americanas passaram a ter organizações pelos direitos dos homossexuais. E, em 1970, após 1 ano das revoltas, aconteceram as primeiras passeatas do orgulho gay nos Estados Unidos.

Em terras brasileiras, as nossas passeatas/paradas vão começar nos idos da década de 90 do século XX. A primeira parada foi realizada em junho de 1997, na Avenida Paulista. O Intento do evento era unir a diversidade e aproveitar o ensejo para bradar pelo respeito e o orgulho de ser quem verdadeiramente é. 

A partir da parada de São Paulo, a população LGBT+ foi se organizando pelos vários estados brasileiros e fazendo suas respectivas paradas. Toda essa força advinda destes eventos, faz das marchas os maiores atos de direitos humanos da história do Brasil. Nenhum outro segmento identitário consegue levar para as ruas tantas pessoas para reivindicar direitos e celebrar conquistas. 

Uma sociedade diversificada, marcada pela diferença, é o que almejamos. Para isso, demanda não apenas aceitação, assimilação integração benevolente nos espaços institucionais, como as escolas e as universidades, por exemplo, mas exige de nós um compromisso com a transformação das mentalidades e com a viabilização de políticas públicas que garantam os direitos de todxs os corpos à saúde, à segurança, ao trabalho formal e, principalmente, à educação, direito fundamental que maximiza a realização de todos os outros. 

O Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia, ainda continua sendo o país que mais mata a população LGBT’s no mundo. No último, 256 pessoas foram vítimas de morte violenta por causa das suas identidades de gêneros e de suas orientações sexuais, uma morte a cada 34 horas. Ainda, segundo o GGB, o Nordeste continua sendo a região mais insegura para LGBT+, com 43,3% das mortes. A Bahia assume a primeira posição no ranking dos estados nordestinos. 

O triste quadro exposto acima, nos envergonha, precisamos rever as bases formadoras da nossa sociedade, acredito na educação enquanto caminho transformador de uma sociedade. Uma educação que não questiona a violência da expropriação do capital, as desigualdades socioeconômicas, o racismo estrutural, o sexismo, o machismo e suas violências de gêneros e sexualidades, a vulnerabilidades a que estão submetidas às populações de pessoas excluídas, como indígenas, pessoas em situação de rua, dentre outras, não produzir em algum futuro respostas concretas para modificar as estruturas de opressão a qual nossa realidade está imersa. 

A luta nunca termina, é preciso, como diz a canção do Caetano Veloso, estarmos atentos e fortes, sem medo de temermos a morte. O que queremos é muito simples, o direito de viver, nos deixe viver do nosso jeito. O mundo também nos pertence. Que possamos construir um mundo cada vez mais colorido e diverso. Cada vez mais múltiplo, pois, a riqueza de uma sociedade está na sua diversidade. E, sobretudo, no respeito a cada um. 

 O respeito às diferenças existentes entre cada ser humano constitui pressuposto de uma sociedade democrática que, como tal, reconhecendo a singularidade de cada indivíduo e a complexidade que disso emerge, assegura-lhe direitos e garantias que, em verdade, são inerentes a toda e a qualquer pessoa.

Foto de Capa: Freepik

O professor Celio Silva Meira é Doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Social pela UCSal e pesquisador de gênero e sexualidade na educação, religiões afro-brasileiras, território e territorialidade. 

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