“No meu dia a dia como líder, às vezes não é muito fácil, porque lidar com pessoas é difícil. Mas é necessário ter liderança para saber resolver questões, fazer reuniões e conversar com as pessoas. Então eu aprendo no dia a dia a ser líder”, relata Patrícia Cardoso de Araújo, empresária e sócia proprietária do João Henrique Atacadista.
A empresária Alexandra Lima de Oliveira, idealizadora e sócia proprietária da empresa terceirizada Mais Saúde, desta: “sou uma mulher negra, com grandes dificuldades ao decorrer desses anos, mas nunca fui impossibilitada a sonhar. Eu me considero uma mulher corajosa e com grande determinação”.
Assim como Patrícia e Alexandra, muitas mulheres ocupam o papel de liderança no Brasil. De acordo com o Panorama Mulheres 2023, estudo feito pelo Talenses Group com o Insper, a participação feminina na presidência das empresas e em outros cargos de liderança no Brasil, cresceu de 2019 a 2022. As mulheres passaram de 13% para 17% dos CEOs do país e a expectativa é de que a proporção ultrapasse 20%.
No entanto, o Panorama Mulheres 2023 mostra que quanto maior é o porte da empresa, menor é a participação de mulheres na liderança. Ainda de acordo com o relatório, a maioria das presidentes no Brasil está em empresas de pequeno porte, familiares, de capital fechado e no setor de serviços. Por isso, a liderança feminina no Brasil, ainda é um caminho a ser percorrido, pois ainda existem desafios e desigualdades de gênero que precisam ser superados.
Liderança feminina no ramo comercial
A história de Patrícia Cardoso de Araújo, 40, como empresária e sócia proprietária do João Henrique Atacadista, localizado em Barra do Choça, iniciou na sua juventude. Aos 15 anos ela começou a namorar com João Moreira de Oliveira, seu marido, aos 16, engravidou do seu primeiro filho e casou-se com João no ano 2000. Com isso, eles passaram a trabalhar na feira da cidade vendendo tempero caseiro.
Nascida e criada em Barra do Choça, quando criança Patrícia morava na zona rural do município, na fazenda onde seu pai era gerente. Na infância, a empresária e seus cinco irmãos eram conhecidos como filhos de Seu Roque. Ela estudou nas escolas do município onde mora. “Como a gente morava na roça, tínhamos que ir de bicicleta, para estudarmos todos os dias de manhã”, conta.
A empreendedora relata que no início do casamento foi muito difícil, pois, quando casaram, eles não tinham casa própria. “Eu morei um tempo com a minha sogra, depois a gente foi construindo a casa e para terminar a construção tivemos que vender uma moto, quando a gente mudou, a casa só estava rebocada e com piso grosso, tinha água, mas não tinha energia”, descreve.
O empreendimento do casal começou quando seu marido trabalhava em uma barraca na feira e também era servente de pedreiro. Em determinado momento, Patrícia começou a trabalhar na feira com seu marido. “A gente passou por várias dificuldades nesse tempo, mas a gente começou trabalhar com tempero caseiro. João, colocou uma barraca para ele e eu montei uma para mim e ele também começou a vender tempero, na bicicleta”, afirma.
Tempos depois, ela começou ficar em casa produzindo e empacotando os temperos, enquanto seu esposo vendia a produção, de bicicleta, nos bares da cidade. Aos poucos, com o aumento das vendas, precisaram comprar uma moto e uma carretinha de engate para colocar os alimentos. Nos finais de semana os dois saiam juntos pela região para venderem.
A ideia de colocar uma distribuidora pequena na frente da casa surgiu quando os clientes iam à casa de Patrícia comprarem os produtos. Mas como eles não tinham condições para contratarem um mestre de obras, o esposo, que tinha habilidades de pedreiro, começou construir a distribuidora na frente da casa deles. “A gente vendia doces, bebidas, entre outras coisas. E com isso foi aumentando as vendas cada vez mais, ele parou de trabalhar na feira e a gente ficou somente no comércio”.
A empresária, na época, formou-se para professora e passou a trabalhar durante o dia no comércio e a noite dava aula. Segundo ela, o nome da distribuidora foi em homenagem ao seu primeiro filho, João Henrique. “Depois eu engravidei de Eduarda, minha segunda filha, e nesse momento, a gente já tinha um comércio maior”, frisa.
Segundo a empreendedora, o seu esposo gosta de lidar com pessoas e ela, por ser uma pessoa tímida e reservada, prefere administrar as áreas de finanças, no escritório. “Eu fiz faculdade, teve um período que eu achava que tinha que buscar mais conhecimento. Então eu fui estudar administração e logística”, descreve.
Para Patrícia, ter sido uma mulher grávida na adolescência, sem ter trabalho e sem ter casa, não foi fácil, mas eles buscaram realizar os seus objetivos e adquirirem novos conhecimentos. Ela ainda relatou que por estar trabalhando no escritório as pessoas pensam que ela não trabalha, conhece apenas o mérito de João. “As pessoas não veem a Patrícia, veem a esposa de João Henrique, como é conhecido o meu marido, o mérito é só de João”, afirma.
A empresária conta que seu dia a dia como líder exige muita sabedoria para lidar com todas as questões que envolvem ser uma liderança. “No meu dia a dia como líder, às vezes não é muito fácil, porque lidar com pessoas é difícil. Mas é necessário ter liderança para saber resolver questões, fazer reuniões e conversar com as pessoas. Então eu aprendo no dia a dia a ser líder”.
Na empresa, são 64 funcionários e Patrícia conta que alguns delas não validam as suas orientações e acredita que isso acontece pelo fato dela ser mulher. “Por ser uma mulher que está falando, acho que eles não têm muita confiança. Quando é meu marido que passa para eles a informação, os funcionários parecem ter mais confiança. É mais seguro eles confiarem no que ele fala do que no que eu falo”, explica.
Patrícia enfatiza que se sente realizada administrando a empresa e mesmo sendo cansativo, tudo vale a pena. Ela se considera uma mulher inspiradora, porque acredita que as pessoas espelham no seu trabalho, na forma como empreende e administra o João Henrique Atacadista. “O recado que eu tenho para as outras mulheres é para elas nunca desistirem dos seus sonhos e sempre procurarem fazer o que elas gostam. Procurar trabalhar e ser reconhecida no que faz, pois é muito gratificante”, destaca.
Patrícia e João, têm três filhos, os dois mais velhos já trabalham no comércio da família e o mais novo está aprendendo com os pais como é gerenciar uma empresa. Recentemente, após passar por uma reforma, o Comercial João Henrique foi inaugurado como João Henrique Atacadista. “Tudo que a gente faz é pensando no bem do cliente. Eu agradeço a Deus, primeiramente, por ter me dado essa família maravilhosa e por ter nos concedido o dom de empreender”, conclui.
Liderança feminina na educação
A liderança feminina desempenha um papel crucial no ambiente escolar, as mulheres compõem a maioria dos profissionais da área e desempenham um papel fundamental na educação das futuras gerações. De acordo com os dados do Censo Escolar de 2022, 80,7% dos diretores na educação básica são mulheres.
Claudete Moreno, 49, formada em Ciências Biológicas e atualmente coordenadora do Comitê do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) do município de Barra do Choça, é moradora da localidade há mais de 25 anos. A coordenadora conta que o seu vínculo com a educação foi formado pela influência de algumas amigas que a convidaram para cursar Ciências Biológicas no Centro Universitário UniFTC (anteriormente conhecida como Faculdade de Tecnologia e Ciências ou FTC).
Ao finalizar o curso, no ano de 2009, Claudete começou lecionar no Centro Educacional Professor Jorge Delano, na região do Pau Brasil, zona rural do município. “Na escola Jorge Delano, fui me envolvendo com as histórias dos alunos da educação e me encantando em poder auxiliar o próximo. Descobrindo como os nossos jovens, naquela época, eram carentes não apenas de conteúdo, como também de informação”, relata.
Segundo a professora, ela foi uma incentivadora para os seus alunos buscarem mais conhecimento, pois queria que eles traçassem caminhos diferentes. O seu intuito era mostrar que há possibilidade de estudar e se profissionalizar para trabalhar no campo.
Por isso, pretendia que eles se especializassem para provocarem melhorias para o lugar onde viviam, visando a permanência dos seus alunos no campo, para realizarem funções que beneficiassem toda a população. “Na escola Jorge Delano, eu lecionei para uma turma de 9° ano, onde tudo que eu aprendia, eu repassava para eles. Levei essa turma comigo para fazer a prova do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba)”, conta.
Ainda como professora, nos anos de 2010 e 2011, Claudete deu aula no Colégio Estadual Vitória Lima de Oliveira, localizado no distrito de Barra Nova, do município de Barra do Choça. Após esse período, ela começou a participar da Divisão de Articulação Pedagógica, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Educação.
Em 2012 passou a ser a coordenadora da Articulação Pedagógica. “Enquanto coordenadora eu consegui inscrever a Escola Municipal Professor Josenildo Leite, no Ministério da Cultura (MinC), com o projeto de Ciências e Arte, desenvolvido pela Companhia Itinerante de Artes Cênicas (CIAC) e conseguimos fazer com que a escola fosse elegível pelo Ministério da Educação (MEC)”, descreve.
Claudete destaca que essa conquista foi significativa, pois, na Bahia, apenas essa e mais uma escola do campo receberam o recurso. E a partir desse momento, ela começou a inscrever a escola em todas as oportunidades que lhes eram dadas.
A professora conta que, ao longo da sua trajetória, seus alunos representaram toda a sua história na educação e enfatiza a alegria e o orgulho com alguns alunos que se destacaram. “Eu tenho dois alunos que representam a minha trajetória de professora e educadora. Um, hoje é engenheiro e trabalha aqui na Secretaria Municipal de Educação de Barra do Choça (Semed), ele conseguiu ir até a etapa a nível nacional nas Olimpíadas de História. E o outro, hoje é provador de café, degustador e um menino que tem uma inteligência indescritível”.
Em 2013, ela se inscreveu para o concurso para a vaga de Secretária Escolar do município e em 2016 foi convocada para assumir a vaga. Durante um período continuou trabalhando na Escola Josenildo Leite, mas relata que por ser uma pessoa questionadora e não aceitar respostas “prontas”, acredita que tenha sofrido uma perseguição política e foi remanejada para o Centro Educacional De Barra Do Choça (CEBC).
No Centro ela ficou durante três anos, em 2021 quando a nova gestão municipal assumiu a prefeitura, ela foi convidada à Sala dos Conselhos e ficou de fevereiro a maio do mesmo ano. Em maio de 2021, assumiu o cargo de coordenadora do Comitê do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE), na sala de Sistemas e Programas, da Secretaria Municipal de Educação de Barra do Choça (Semed).
O seu trabalho é feito juntamente com as escolas do município, a sua função consiste em fazer as prestações de contas. “Eu cuido dessa parte, dos recursos que chegam nos caixas escolares e dos programas implantados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para as redes municipais de ensino”.
Segundo a coordenadora, no programa são feitas muitas formações, pois tem projetos para educação infantil, para os anos iniciais, anos finais e toda a educação. Ela conta que teve a oportunidade de pleitear junto com a Escola Municipal Emiliano Zapata, um projeto pelo Programa chamado Brasil na Escola. “Naquele momento, no eixo técnico do Brasil na escola, as quatro escolas elegíveis pelo MEC poderiam se inscrever ou inscrever um projeto da escola no eixo inovação para contar uma prática exitosa a ser implantada na escola, eu propus o desafio às quatro escolas, uma delas foi a Emiliano Zapata. Nós passamos por uma etapa bem importante, o projeto foi avaliado por uma banca do MEC e a banca do CNPq Lattes, o Currículo Lattes”, conta a coordenadora.
Na etapa do projeto em que Claudete e a coordenação escolar inscreveram a escola, o currículo, o currículo do secretário de educação do município, o currículo do grupo da escola que foi escrito e o projeto escrito foram avaliados pelo MEC e a banca do CNPq Lattes. “Para nossa surpresa e para nossa alegria, nós fomos selecionados como o projeto de número um a nível Brasil. E aí nós pleiteamos meio milhão para essa escola onde hoje tem o meliponário didático e está em início, está em fase de implantação, mas se Deus quiser, ao longo desses cinco anos nós vamos colher bons frutos”.
Na sala onde a coordenadora trabalha apenas ela é mulher. Ela explicou que por ser Secretária de Educação, a educação tem muita representação da mulher, mas para cargos técnicos, na maioria das vezes são os homens que assumem os cargos. Ela relata que gosta de trabalhar na sala de Sistemas e Programas e se sente respeitada. “Eu me sinto confortável, segura, acolhida e não me sinto duvidada”.
Claudete também já se candidatou a vereadora e conselheira tutelar do município, nesse ambiente, ela conta que por muitas vezes se sentiu discriminada e que de alguma forma os homens agridem o espaço feminino. “Na política essa discriminação é muito aflorada, na época que eu participei era obrigatório ter um índice de mulher na campanha, e a gente tinha um fundo específico eleitoral, mas não era respeitado”.
Claudete enfatiza que mesmo a mulher tendo que provar mais que ela sabe que ela é capaz, desistir não pode ser uma opção. “Ela é tão capaz quanto, ela é importante sim, para a sociedade. A gente precisa lutar pelos nossos sonhos”, conclui.
Deusane Nascimento Ramos, 37, formada em Licenciatura plena em Língua Portuguesa e Inglesa, também pelo Centro Universitário UniFTC, é Diretora Escolar do Centro Educacional de Barra Nova (CEBN). Ela nasceu, foi criada e mora até os dias atuais no Distrito de Barra Nova, município de Barra do Choça. Deusane, cursou o fundamental I e II na escola do Distrito e o ensino médio na Sede do município, pois, na época, não havia escola dessa etapa em Barra Nova. “Cresci com o desejo de me tornar professora desde os tempos em que pedia o giz para a ‘tia’ e chegava em casa onde dava as primeiras aulas da vida escrevendo no armário ou no guarda-roupa da minha mãe”, destaca.
Quando concluiu o ensino médio, a diretora prestou vestibular e iniciou a graduação em Licenciatura e depois iniciou a especialização na mesma área. “Neste período tive a oportunidade de assumir as primeiras turmas nos anos finais do ensino fundamental no noturno do CEBN”, conta.
Em 2010 foi convocada pelo Concurso Público Municipal prestado em 2006 e assumiu a turma de primário na zona rural de Barra do Choça, região da Cavada e anos finais do CEBN, à noite e no ano seguinte passou a lecionar no CEBN, as 40 horas aulas. “No decorrer desse tempo estive como articuladora de projetos, nos anos de 2016 e 2017, coordenadora pedagógica e gestora escolar entre os anos de 2021 e 2023, função na qual atuo neste momento buscando sempre manter o bom funcionamento da escola, incentivando, motivando e inspirando a equipe e os alunos, garantindo a qualidade de ensino”, diz.
Segundo a diretora, estar na liderança de uma instituição de ensino é um desafio constante. Ela observa que, nesse sentido, faz-se necessário conduzir os trabalhos de maneira que caminhe sem muitos imprevistos, observando as necessidades da comunidade escolar relativas às melhorias no processo de ensino e aprendizagem, integrando a equipe e motivando-os a fim de alcançar bons resultados sempre com olhar humano e atitudes democráticas.
Deusane destaca que o machismo está presente em muitos espaços e na escola não é diferente. E contou que “apesar de serem raras atitudes dessa natureza, ainda se observam situações nas quais o machismo se revela no desrespeito às opiniões femininas bem como a dificuldade de seguir orientações vindas da figura feminina o que revela o preconceito enraizado em alguns indivíduos”.
De acordo com a diretora, ser mulher e líder de uma equipe escolar é gratificante, por compreender que as mulheres, com ações constantes podem inspirar outras mulheres a se sentirem capazes, por fazer da educação uma ferramenta de conscientização do respeito à diversidade, por exercitar constantemente a empatia, resiliência, fortalecer as interações sociais e acreditar que o conhecimento é a melhor maneira de combate ao preconceito. “Sinto-me honrada enquanto figura feminina, representante de tantas outras mulheres da comunidade de origem humilde, em poder contribuir com o desenvolvimento de adolescentes e adultos através da educação”, frisa Deusane.
A educadora enfatiza que acredita na educação, e poder ajudar na construção de uma educação mais igualitária com espaço escolar de múltiplas vozes faz ela entender, a cada dia, o quanto a educação é transformadora, pois a sua vida também se tornou melhor através da educação.
Deusane se considera uma mulher resiliente, que busca o seu melhor todos os dias com determinação. “Que sejamos mulheres que levantemos às outras, praticando a sororidade. O lugar que a mulher deve ocupar cabe a ela escolher, de acordo com suas aspirações. Que encontremos sempre força para usarmos o conhecimento em favor da valorização e respeito às mulheres deste país a fim de termos espaço sempre para alcançarmos os nossos objetivos e inspirar outras mulheres”.
Liderança feminina na advocacia
Na história da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), os advogados homens predominavam na área, mas a representatividade feminina na advocacia brasileira tem crescido significativamente nos últimos anos. De acordo com o Conselho Federal da OAB, em 2021, pela primeira vez na história a presença feminina na categoria representa a maioria dos profissionais da advocacia brasileira.
Monica Rocha Silva Bleg, 26, formada em Direito pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), é advogada do direito de família e sucessões, delegada da OAB de Barra do Choça, fundadora e advogada administradora do Centro de Advocacia Monica Bleg.
O sonho de ser advogada começa aos sete anos, quando a sua professora organizou uma brincadeira em formato de júri e ela foi a advogada que defendeu o acusado. Ela contou que no dia conseguiu absolver o acusado e, naquele momento, surgiu um senso de justiça e amor pelo Direito.
Para Monica, ali nasceu um sonho e também a curiosidade, por isso ela começou a estudar sobre a área, olhar para as advogadas e sonhar em ser como elas um dia. Segundo ela, são essas mulheres que falam em público, que empunham para falar, não tem medo e exercem o seu trabalho que inspirou muito a sua carreira.
Já no ensino médio, a delegada da OAB de Barra do Choça, sabia que quando se formasse iria querer fazer Direito na Uesb. No ano em que foi aprovada, ela fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Vestibular Uesb. “Lembro que minha nota do Enem não foi o suficiente e ela saiu primeiro, quando saiu a nota do vestibular ainda não era o suficiente, só seria se tivesse várias outras chamadas. “‘Impossível’ disseram!”, lembra.
Nesse momento, Monica desistiu e foi trabalhar no comércio, iria fazer sua matrícula na Universidade Norte do Paraná (Unopar), no entanto o seu pai viu nas redes sociais da universidade uma nova chamada do Vestibular e o nome dela estava na chamada, ela passou para Direito na universidade que sonhava.
Ela ingressou na universidade em 2015 e, durante o curso no ano de 2018, ela ficou grávida da sua primeira filha, casou-se e ao se formar tornou-se advogada e, após passar na prova da OAB, foi nomeada delegada da OAB de Barra do Choça.
Monica é mãe de três meninas e conta que conseguir reunir essas multitarefas no seu dia faz com que ela se sinta alguém realizada. “Apesar de ser corrido, dividindo minhas horas entre a maternidade e o trabalho, faço o possível para dar o meu melhor em todas essas funções”.
A delegada, que se declara como uma mulher negra, relata que já ouviu comentários preconceituosos e racistas. “Já ouvi coisas como ser menos bonita por ter o ‘nariz esparrachado” e características de pessoas negras, mas, para mim, apesar de as ofensas abalarem, nunca me abateu afinal sou negra, neta de negros e com muito orgulho”, afirma.
Para a advogada, o machismo está presente no seu ambiente de trabalho todos os dias. “Machismo todos os dias, especialmente por ser mulher e mãe, quando diminui meu potencial ou minha competência por achar que não sou tão boa por ter três filhas, um homem enfrentaria esse problema?”, questiona.
Para ela, ser mulher e líder significa quebrar tabus, enfrentar barreiras, orgulhar quem lutou pela sua autonomia. “Sinto-me empoderada, forte e servindo de exemplo para outras gerações. Corram atrás dos seus sonhos, não se deixem abater, acreditem no seu potencial, você pode ser tudo o que quiser!”.
Liderança feminina na área da saúde
O relatório A Situação das Mulheres e a Liderança na Saúde Global aborda o “Paradoxo XX”: 70% dos profissionais da linha de frente da área da saúde são mulheres, mas elas representam apenas 25% dos cargos de liderança. Isso mostra que as mulheres que buscam atuar na liderança feminina na área da saúde enfrentam diariamente muitos desafios.
Alexandra Lima de Oliveira, 42, idealizadora e sócia proprietária da empresa terceirizada Mais Saúde, localizada em Vitória da Conquista, que atua juntamente com o Instituto Brandão de Reabilitação (IBR) da mesma cidade, nasceu e foi criada no distrito de Barra Nova, no município de Barra do Choça. A empresária, sempre trabalhou na área da saúde e há pouco tempo fundou a empresa Mais Saúde, que gerencia juntamente com seu esposo, Gentil Martins de Sousa.
Popularmente conhecida como Sandra, ela começou a trabalhar na Farmácia Villares, localizada em Barra Nova, ainda em sua juventude. Segundo ela, a oportunidade que os proprietários ofereceram para na época é motivo de muita gratidão. Ainda no distrito, ela trabalhou na recepção do posto de saúde da região. “Me lembro com muito carinho, foi aí que comecei a sonhar na área de saúde, fiz um curso Técnico em Enfermagem, que tenho muito orgulho, trabalhei por muitos anos na área e vim embora para Vitória da Conquista”.
A técnica em enfermagem trabalhou atuando na área em uma clínica e depois na gestão da mesma clínica. Após alguns anos, Sandra iniciou o sonho do seu próprio negócio, uma central de marcações de exames e procedimentos cirúrgicos. “Hoje tenho uma empresa terceirizada junto ao Hospital IBR, que sempre acreditou no meu trabalho, trabalhamos com seis colaboradores que desempenham o trabalho com muita eficiência”.
Alexandra é casada com Gentil há 14 anos e eles têm duas filhas, que aprendem diariamente com a mãe a serem mulheres fortes e determinadas. “Sou mulher negra, com grandes dificuldades ao decorrer desses anos, mas nunca fui impossibilitada de sonhar. Eu me considero uma mulher corajosa e com grande determinação, tenho vários sonhos e tenho fé em Deus que estão próximos a realizarem”.
Emily Chaves é estudante do 7º período do curso de Jornalismo da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. A matéria foi produzida e escrita pela estudante para a disciplina de Tópicos Especiais, publicada no Site Coreto com revisão da jornalista Leila Costa.