O 8 de março ainda é de luta das mulheres por seus direitos

Por Fernanda Protasio
Publicado em 08/03/2024

É necessário repensarmos o 08 de Março, não se trata de comemorar mais uma data, se trata de, simbolicamente, reafirmarmos o nosso lugar no mundo, a nossa existência, a nossa força, a nossa luta, as nossas dores, as nossas faltas e a desigualdade que corrompe a nossa condição de ser humano numa sociedade patriarcal, machista e misógina. 

Nós, mulheres, somos historicamente tratadas como seres passíveis de sermos cerceadas do poder de escolha e liberdade. Desde a pré-história que somos violentamente retiradas dos nossos lugares, sequestradas e usadas como criaturas procriadoras e garantidoras da sobrevivência da espécie humana, claro que não aceitamos isso de maneira passiva, não somos objetos, não somos fracas e em muitos momentos da história também tomamos o controle no topo das sociedades matrilineares e matriarcais que eram, por sua vez, sociedades mais justas e menos hierarquizadas. Esta característica de insubordinação faz parte da nossa essência de resistência ao sistema que nos oprime, nos invizibiliza, nos exclui e nos mata. 

Dados do relatório “Elas vivem: dados que não se calam”, publicado pela Rede de Observatórios da Segurança em 2023, apontam que, a cada quatro horas, ao menos um caso de violência contra a mulher foi registrado em 2022. Segundo o relatório, as principais motivações de crimes contra mulheres são brigas e términos de relacionamento. Estes números são indicadores da forma com a qual os homens enxergam e se relacionam com as mulheres, eles nos veem como seres inferiores e que devem obediência e subordinação, à medida que nós tentamos nos livrar dos relacionamentos abusivos e violentos com estes homens, eles respondem por meio da força agredindo fisicamente e matando, os números apontam que 75% dos feminicídios são cometidos por companheiros ou ex-companheiros das vítimas. 

Desta forma, o 08 de Março deve ser um grito em nome da liberdade feminina e um pacto que deve ser firmado e reforçado diariamente de apoio mútuo entre as mulheres e o comprometimento da sociedade em prol da garantia de uma vida digna e segura para as mulheres. 

Apesar da hegemonia da cultura machista e misógina na nossa sociedade, nós seguimos firmes e vivas, lutando contra esta forma discriminatória de organização social, mesmo sob a pena dos abusos e da violência que recai diariamente sobre nós, seguimos sobrevivendo e se há vida, há igualmente a esperança em dias melhores, em dias em que poderemos viver sem medo, sem sentir o peso do ódio social contra a nossa feminilidade. Sonhamos e lutamos para o dia em que poderemos respirar ares de liberdade, segurança e respeito.

*Fernanda Protasio é professora de História, especialista em Fundamentos Políticos da Educação, mestra em Memória, Linguagem e Sociedade, com ambas as formações pela Uesb, e escreve crônicas e poesias.

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