Poções registra aumento de casos de dengue e alerta para outras doenças causadas pelo Aedes aegypti

Por Nataly Leoni
Publicado em 17/04/2023

Os casos de dengue tiveram um aumento significativo na cidade de Poções, passando de 18 para 31 o número de casos confirmados, em menos de um mês. Dados do boletim informativo da Vigilância Epidemiológica-VIEP, coletados até o dia 29/03, mostram 53 casos notificados. O boletim publicado no dia 05/04 informa que o número de notificações subiu para 93 e para 20 o número de casos confirmados. Já nos dados do último boletim, divulgado no dia 12/04, é possível ver um novo aumento, com 129 notificações, das quais 31 são de casos confirmados, 59 aguardam o resultado do exame e 26 casos ainda aguardam a coleta.

O vírus da dengue é a arbovirose – vírus que é transmitido principalmente por mosquitos – mais comum no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde -OMS, o vírus da dengue é transmitido pela fêmea do mosquito, em sua maioria da espécie Aedes aegypti e da espécie Aedes albopictus com menor frequência.  

Segundo o agente de combate às endemias e educador em saúde, Walter Marques Batista, a dengue é uma doença sazonal que está relacionada às estações mais quentes do ano, quando aumenta a proliferação dos mosquitos. “Para nós, em Poções, é na primavera e no verão, quando temos muito sol e as chuvas torrenciais favorecendo a multiplicação do Aedes e também das muriçocas. Outro problema de saúde pública. No outono e inverno diminui um pouco, mas não acaba, os mosquitos já conseguem se adaptar também nas estações frias”, conta.

De acordo com o Ministério da Saúde, os principais sintomas da dengue são febre alta (38ºC), mal estar, falta de apetite, dor no corpo e nas articulações, dor atrás dos olhos, dor de cabeça e manchas vermelhas pelo corpo. A doença apresenta-se em quadros mais leves ou assintomáticos na maioria das pessoas, porém, a dengue em seu estado mais grave pode chegar a chamada dengue hemorrágica que atinge uma em cada 20 pessoas infectadas, segundo o portal do Instituto Butantan.

“Eu descobri que estava com dengue quando comecei a sentir muita dor nos braços, dor nas pernas e vomitava muito. Eu fui até o laboratório, fiz um exame de sangue e deu que minhas plaquetas estavam muito baixas, foi através desse exame que eu descobri que estava com dengue”, conta a dona de casa Silvana Meira de Novais. De acordo com o depoimento de Silvana, até então não havia nenhum indício de que existiam focos do mosquito em sua casa ou nas casas vizinhas.

Silvana Meira de Novaes é uma dessas pessoas que foi acometida pelo estágio mais grave da doença. “Eu comecei a entrar no quadro de dengue hemorrágica. Comecei a sangrar a gengiva, a ficar muito mal mesmo. Aí é direto no hospital tomando soro e remédios”, conta. De acordo com o portal do Instituto Butantan, os principais sintomas da Dengue Hemorrágica são: intensas dores abdominais, vômito constante, às vezes com presença de sangue, sangramento na gengiva e no nariz, presença de sangue nas fezes,  dificuldade para respirar, cansaço, confusão mental, aumento do fígado e queda de pressão arterial. 

Silvana Meira Novais, dona de casa

Os sintomas da dengue hemorrágica podem se manifestar na pessoa infectada após três a sete dias em que a pessoa já tenha apresentado os sintomas da dengue clássica. “Eu fiquei umas duas semanas ruim mesmo, com muita febre. Não tinha vontade nem de viver. Eu pensava que eu ia morrer”, afirma Silvana. A dengue em seu estado mais grave, de fato, pode levar a sérias complicações, e até mesmo ao óbito, principalmente em pessoas idosas ou que tenham problemas crônicos como diabetes e hipertensão, caso não procure atendimento médico com urgência.

Ao passar o tempo de tratamento e dos sintomas mais graves, a doença pode ainda deixar sequelas por semanas. Silvana narra que após a melhora dos sintomas, por conta das manchas vermelhas, ela teve muita coceira por todo o corpo, porém, outros sintomas da dengue podem persistir por vários meses depois do paciente não estar mais com o vírus. 

Além da dengue, o Aedes aegypti, pode transmitir outras doenças como zika e chikungunya. Segundo dados da OMS, o vírus da zika tem como principais sintomas: febre baixa, dores no corpo e articulações, mal estar, dor de cabeça, conjuntivite e erupções cutâneas. Ao ser contraído por gestantes, o vírus pode causar diversas anomalias ao feto, deficiências que perduram para o resto da vida, a principal delas é a microcefalia congênita.

Já a chikungunya pode se desenvolver em três fases, de acordo com o Ministério da Saúde, a primeira é a fase febril ou aguda com duração de cinco a 14 dias, a segunda é a pós-aguda que pode durar até três meses, e a crônica, quando os sintomas persistem por mais de três meses. A doença tem como principais sintomas: febre, dores no corpo e nas articulações, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, dor na garganta, erupções avermelhadas na pele, calafrios, dor abdominal e diarreia. 

Nos dados divulgados pela Vigilância Epidemiológica municipal, não foram testados casos positivos para a zika e a chikungunya.

Prevenção contra a proliferação do Aedes aegypti

A melhor maneira de prevenção contra a dengue é combater o mosquito transmissor, destruindo qualquer ponto que sirva de foco para a sua reprodução. Para Walter Marques Batista, “pneu com água,  caixa descoberta,  calha entupida, garrafas de boca pra cima, água dos animais propiciam o desenvolvimento dos mosquitos”. Ou seja, a população deve estar atenta a todo tipo de recipiente ou local que possa vir a juntar água parada.  Para ele, as pessoas têm consciência dessas medidas, mas muitas não cumprem por acomodação, por não poder realizar a limpeza adequada ou  ainda por não ter condições de fazer alguma mudança em suas casas.

Segundo Walter Marques o índice de casas com focos do mosquito em Poções aumentou de forma considerável. “Algumas localidades como os bairros Alto da Vitória, Indaiá, Primavera, Joaquim Mascarenhas e Lagoa Grande há circulação do vírus da dengue”. Nesses casos, medidas para que não aumente a proliferação do mosquito são tomadas nas localidades. “Tratar esses depósitos com o larvicida e levar a amostra para a análise que é feita no Centro de Endemias. O protocolo para bloquear a forma adulta do Aedes para casos suspeitos, um próximo ao outro ou um caso confirmado da dengue, realiza-se o bloqueio em um raio de 50 metros a partir daquela residência com a nebulização de produtos químicos”, conta o agente de combate às endemias. 

Walter Marques Batista, Agente de Combate às Endemias e Educador de Saúde

Em relação a propriedades privadas que não há moradores ou não se encontram em horário comercial, Walter afirma que esses locais favorecem a proliferação do Aedes aegypti. Nesses casos, ele diz que é feito o trabalho de visitas nos finais de semana ou em horários alternativos para fiscalização, já quando esses espaços estão abandonados, conta que são um problema. “Se tornaram um problema crítico pois não existe uma lei municipal que autorize o agente de endemias entrar nos imóveis privados, fechados ou abandonados.”

Os terrenos baldios também são um problema na cidade, segundo Walter Marques, a lei para a limpeza desses terrenos existe, mas não funciona como deveria. A fiscalização ficaria por conta dos fiscais de obras que poderiam, entre outras coisas, multar o proprietário do terreno. “Até o momento não temos informações se já aconteceu alguma ação dessa natureza. Ao agente de endemias é complicado fazer acontecer essa lei em virtude de recusas nos futuros trabalhos ou mesmo ameaças”, conta. 

Já os espaços públicos, Walter Marques informa que a responsabilidade da fiscalização e limpeza fica por parte da Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos por meio do Setor de Limpeza Urbana e aos Agentes de Combate às Endemias que segundo ele devem, “vistoriar, inspecionar, eliminar e aplicar larvicidas nos depósitos em potencial ao Aedes Aegypti, além de orientar, educar, informar, promover e prevenir a saúde do morador com suas ações.”

Tratamento

O paciente que, ao detectar os sintomas acima mencionados, deve procurar o médico para que seja estabelecido o tratamento, conforme a avaliação clínica inicial. Segundo as orientações do Ministério da Saúde, ainda não existe um tratamento específico e recomenda alguns cuidados ao infectado como o repouso enquanto durar a febre; estímulo à ingestão de líquidos; uso de paracetamol ou dipirona em caso de dor ou febre; não usar ácido acetilsalicílico e procurar imediatamente o serviço de saúde, em caso de sinais de alarme.

Em março a Agência Nacional de Vigilância  Sanitária- ANVISA aprovou o registro de uma vacina para a prevenção da dengue. A Qdenga é desenvolvida pela  empresa japonesa Takeda Pharma e será destinada a crianças acima de quatro anos, jovens e adultos até 60 anos.

A vacina é o primeiro imunizante aprovado no país destinado ao público que nunca teve dengue. A vacina Dengvaxia, imunizante aprovado anteriormente, só pode ser usada em pacientes que já foram infectados com a dengue.

O Site Coreto entrou em contato com a Secretaria de Saúde de Poções para saber quais projetos e ações de prevenção e combate a dengue, zika vírus e chikungunya foram e estão sendo realizados na cidade, também para saber sobre como está sendo o acompanhamento dos pacientes, porém, até o momento de publicação desta matéria, não obteve uma resposta da pasta.

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