Em 2020, diante da pandemia da covid-19 que se instaurou no mundo, a bicicleta se tornou a alternativa de muitas pessoas que desejavam praticar alguma atividade física e precisavam encontrar outra forma de realizá-la, devido ao fechamento das academias no período de lookdown. Além disso, pedalar também se tornou opção para aqueles que queriam evitar aglomerações em transportes públicos.
A evidência desse crescimento se dá pelo aumento do número de vendas de bicicletas nos últimos dois anos. De acordo com um levantamento feito pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas, em 2020 foi registrado um aumento médio de 50% nas vendas de bicicletas, batendo recorde em território nacional. Em 2021, o volume de vendas se manteve durante o primeiro semestre, com o crescimento de 34% em relação ao ano anterior.
Por isso, é possível sair a qualquer hora do dia e encontrar as ruas cheias de ciclistas que optam por trilhas ou corridas mais curtas como exercício diário. O estudante poçoense de 22 anos, Lauro Pereira, pedala há 1 ano e meio, começou ainda durante a pandemia. A sua rotina consiste em pedalar 50 km duas ou três vezes por semana.
Para Lauro Pereira, além dos benefícios que o exercício proporciona para o corpo, ele também possibilita conhecer novos espaços no município. “Optei por pedalar pelo movimento que o pedalar proporciona. Além disso, as diferentes paisagens fazem o exercício não ficar enjoativo, e mentalmente é uma válvula de escape”, conta.
Angeline Cunha começou a pedalar há alguns meses, quando procurava uma atividade física que lhe permitisse sentir a sensação de liberdade. Sua rotina é pedalar 27 km todos os dias. “Queria uma atividade ao ar livre, que me desse liberdade. Comecei com intuito de relaxar, mas hoje em dia fiquei viciada. Às vezes vou em grupo, outras vezes sozinha, e os benefícios são inúmeros, tanto emocional quanto físico. Eu tinha problemas para dormir, hoje em dia durmo maravilhosamente bem”, relata.
O ciclismo pode trazer muitos benefícios para a saúde, principalmente no que diz respeito ao fortalecimento muscular. Um estudo publicado pelo British Medical Journal (BMJ), aponta que pedalar reduz em 45% as chances de desenvolver doenças como o câncer. A saúde mental também se beneficia dessa prática, afinal, durante o ciclismo ocorre a liberação de endorfina, que promove felicidade, e a redução do cortisol, hormônio responsável pela sensação de estresse.
De acordo com a psicóloga Cristiane Fonseca, existem inúmeros benefícios na prática de atividades físicas, diante da liberação de hormônios que a movimentação produz. “Além disso, apesar de existir a possibilidade de ser feito sozinho, de modo geral, o pedal é um esporte coletivo, o que também facilita as relações permitindo novos contatos, novas amizades, aumentando o grupo social do indivíduo e a possibilidade de socializar de forma saudável”, afirma.
A psicóloga também destaca as mudanças alimentares que o ciclismo pode provocar. “O esporte exige que o indivíduo esteja bem fisicamente devido ao esforço físico exigido. Nesse sentido, muitos precisam passar por uma reeducação alimentar, melhorando e desenvolvendo uma alimentação mais saudável e balanceada”, conta.
O servidor público, Ives Carvalho, da cidade de Barra do Choça, pedala há um ano e meio e faz o acompanhamento com outros profissionais, destacando a importância de equilibrar a prática e o cuidado com a saúde ligado diretamente à rotina de acompanhamento médico. “Faço acompanhamento com nutricionista, profissional de educação física e ortopedista devido às lesões que tenho nos joelhos e pulsos”, relata. Para Carvalho, o pedal possibilita mais disposição para as atividades cotidianas e bem estar mental.
“Pedalar antes de tudo é uma terapia. Você monta em sua bicicleta, sai sozinho ou acompanhado, faz amizades, divide experiências, e isso faz com que você sinta sua alma mais leve. Em tempos onde tudo é muito corrido e as pessoas não têm tempo para o cuidado com o outro e com si próprio, pedalar nos traz essa sensação de paz e alegria, você tira o peso das suas obrigações diárias das costas”, afirma o professor de física do distrito de Lucaia, Rone Lemos.
Para o professor, o pedal ainda permite acessar lugares que, muitas vezes, você só acessa com veículos motorizados, que possuem um alto custo. A bicicleta permite pedalar distâncias longas e visitar cidades diferentes, podendo disfrutar, a cada metro percorrido, tudo que a natureza proporciona.
A jornalista Alexya Amorim, do município de Barra do Choça, é mais uma das centenas de pessoas que começou a pedalar durante a pandemia, paralelo a isso, ela tem feito musculação como forma de fortalecer os músculos para a volta aos pedais noturnos. “É a atividade mais prazerosa que já fiz. Primeiro porque é ao ar livre, envolve a natureza, suas cores e sons. Me levou a conhecer novos lugares, muitas vezes inexplorados e desconhecidos na minha própria cidade. A cada ladeira “vencida” ganhava autoestima para superar os desafios tanto no esporte quanto na vida pessoal e profissional. O esporte realmente mudou minha forma de lidar com os problemas, me sentia fortalecida e motivada, pedalar era como uma terapia em que o corpo extravasava em força enquanto a mente seguia livre para pensar”, relata.
A prática tem se tornado cada vez mais comum na região, e esse crescimento pode ser observado no país inteiro. O portal Comex Stat revela que, atualmente, o Brasil tem cerca de 70 milhões de bicicletas em circulação, a produção anual chega a ser de 2,5 milhões de unidades, o que o torna o quarto maior produtor mundial de bicicletas. As preocupações com a saúde física e mental, podem aumentar ainda mais o número de pessoas que fazem adesão ao esporte.
Foto de capa: arquivo pessoal