Neste ano teremos eleições em todo o país para escolhermos nossos representantes municipais no Executivo (prefeito(a)) e Legislativo (vereadores/vereadoras) para os próximos quatro anos. Cabe ressaltar que é no município que as decisões políticas se efetivam. Por isso é necessário dar a devida importância para as escolhas que serão depositadas na urna eletrônica no próximo dia 06 de outubro.
Em nosso município há uma característica muito marcante no panorama eleitoral: a polarização política. Temos essa realidade também muito latente no cenário nacional, agudizada muito em razão dos acontecimentos políticos dos últimos dez anos. Mas, voltando para a cena local, temos um ar de disputa eleitoral muito concentrada.
Diante disso, precisamos fazer uma reflexão muito importante que intitula este artigo: Quem ganha e quem perde com a polarização política nas eleições municipais de Poções? Para elucidar a nossa reflexão, vamos elencar os principais prejuízos de uma disputa nos moldes que temos em nosso município.
Com a polarização entre grupos políticos, esvaziam-se as discussões sobre questões importantes para o município, como o desenvolvimento local e consequente melhoria na qualidade de vida das pessoas. A polarização traz a discussão de problemas complexos para um local superficial. Como consequência, isso nos impede de ir às raízes dos problemas e de enfrentar as suas causas. O foco dessas questões é desviado para discussões rasas, pouco profundas.
A polarização inviabiliza o debate consciente e racional e tira o foco do que realmente importa. Traz uma despolitização ou reforça uma despolitização já existente. Com isso, amargamente experimentamos uma escassez de pluralidade de propostas e de ideias, uma ausência de programas de governo que sejam condizentes com as necessidades do município e que sejam de fato executadas após a eleição. Além disso, as propostas apresentadas geralmente carecem de uma visão e planejamento de médio e longo prazos, que realmente promovem o desenvolvimento do município
Sobretudo no âmbito nacional, a polarização extrapolou o campo da política e está enraizada na sociedade das mais variadas formas e tem causado um desgaste psicológico em muitas pessoas. Hoje é difícil acontecer um debate ordeiro entre pessoas que pensam diferente.
Outro ponto que que precisamos trazer aqui diz respeito ao desequilíbrio econômico e de capital político acentuados pela polarização política. Por consequência, perde-se a pluralidade de ideias, de propostas e de candidaturas. Ao capitalizar-se financeira e politicamente uma pessoa (ou um grupo político) consegue para si significativa concentração de apoiadores e entusiastas. Com isso, a disputa concentra-se normalmente entre apenas dois grupos com chances reais de vencer a disputa eleitoral. Surge assim um ambiente, por vezes bastante acirrado, de rivalidade entre os grupos hegemônicos que se formam. Cria-se uma dicotomia entre “nós” e “eles”, quando, na verdade, há pouca diferença. Isso culmina, lamentavelmente, em uma guerra de torcidas.
Cabe dedicarmos algumas linhas sobre esse ponto, pois isso descortina em questões muito relevantes. A começar, pela manipulação das emoções. A política deveria ser impelida principalmente por meio da racionalidade das ações e decisões, sem perder, claro, a sensibilidade, uma vez que as decisões tomadas impactam diretamente na vida das pessoas e no meio ambiente, de forma geral. Contudo, o que vemos é um jogo com as emoções das pessoas: medo, terror, ódio, afeto, memória afetiva, paixões, etc. E essa acaba sendo a tônica das campanhas eleitorais e até mesmo fora do período eleitoral. Surgem os apelidos jocosos, as músicas, os vídeos e os memes, que anseiam ser engraçados, ridicularizando os adversários, ou com tom alarmista. Há também os vídeos produzidos para tocar o lado afetivo das pessoas. São vídeos (bem produzidos, há de se reconhecer), que vislumbram atingir emoções mais ternas, mais afetuosas.
Outra questão diz respeito ao uso das chamadas fake news (que são notícias falsas, no todo ou em parte, publicadas por veículos de comunicação como se fossem informações reais), das deepfakes (que são imagens criadas com o uso de tecnologias de inteligência artificial que permitem a sobreposição de rostos e vozes em vídeos) e o uso das chamadas inteligências artificiais para distorcerem a realidade e nossas percepções. Vivemos um momento de extrema eficácia da manipulação.
É a morte da verdade. E, infelizmente, esses recursos são cada vez mais utilizados massivamente, sobretudo, no campo político. Mas então por que isso funciona? Por que mesmo nas notícias claramente inverídicas as pessoas optam por acreditar e por compartilhar? Porque boa parte das pessoas já não se preocupam se as informações são verdadeiras, se são coerentes. Apenas precisam corroborar o seu viés de confirmação. A polarização é uma “guerra” de narrativas e nessa batalha o que importa é achar que se está defendendo o “certo”, independentemente das “armas” utilizadas.
Por fim, o último ponto de reflexão, mas não menos relevante, que gostaria de trazer: Tão importante quanto escolhermos nossos representantes no Executivo é a escolha dos membro do Legislativo. É no Legislativo que as leis, em sentido amplo, são criadas e aprovadas. Na Administração Pública somos regidos, dentre outros princípios, pele princípio da legalidade, que, de forma bastante resumida, reza que a Administração Pública só pode fazer o que é permitido por lei.
Entretanto, a escolha da composição da Câmara Municipal parece não receber a devida importância. Os critérios utilizados para essa escolha se mostram confusos e, por vezes, desconexos de um senso de coletividade. As pessoas verbalizam muito que gostariam de candidatos e candidatadas que apresentem propostas que contemplem os anseios do município e da população. Cobram que tenham mais candidatos que defendam essas ideias. Porém, na prática, temos uma dissonância entre o que o eleitor cobra de um candidato e o que ele cobra de uma pessoa eleita. Por vezes, o eleitor cobra que o candidato tenha propostas para saúde, educação, infraestrutura, geração de emprego e renda, mas quer que a pessoa eleita lhe empregue, empregue sua família, “fure a fila” para marcar um exame, etc.
E assim o clientelismo e o patrimonialismo seguem vivos nas estruturas da política. É o que sustenta a base política de muitos. Por isso é muito importante que aquele ou aquela se apresenta como algo diferente, precisa de fato ser diferente. E quem cobra por algo diferente, precisa também cobrar de forma diferente.
Diante de tudo que foi exposto, podemos resumir a resposta à nossa pergunta inicial da seguinte forma: perde toda a população, perde o município, porque as necessidades e demandas dos munícipes não são discutidas e, consequentemente, não são enfrentadas. Ao menos não com a devida complexidade que os problemas exigem. Ganha quem não tem proposta concreta a oferecer, mas possui muito capital político e financeiro para investir numa campanha eleitoral e ter condições reais de vencer a disputa pelo pleito, independentemente de ter um bom programa de governo, uma boa proposta para o desenvolvimento do município, pois o candidato ganha a eleição, toma posse, mas continua agindo como se estivesse ainda em campanha eleitoral e não se concentra em governar de fato e se beneficia do clientelismo e do patrimonialismo.
Para as eleições de 2024 desejamos propostas eficazes de enfrentamento dos problemas reais do município, como desemprego e subemprego, pobreza e baixo desenvolvimento econômico e social; conscientização ao votar; campanhas pacíficas, respeitosas e focadas no que o município realmente necessita; e candidatas e candidatos comprometidos com a coletividade. Os desafios são inúmeros, mas precisam ser enfrentados.
Samara Campos Ribeiro é graduada em Economia pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, Pós graduada em Gestão Pública.
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