Salvar o Fogo na Fligê: conheça a história do autor Itamar Vieira Jr

Por Daniela Palmeira
Publicado em 19/08/2023
Itamar Vieira Junior

Geógrafo, servidor público e escritor, Itamar Vieira Junior ganhou notoriedade pública em 2019, com o lançamento do livro Torto arado. A história das irmãs Bibiana e Belonísia vendeu mais de 700 mil exemplares no Brasil, e ganhou importantes prêmios de literatura, como o Prêmio LeYa em 2018 e o Prêmio Jabuti em 2020. A partir do sucesso de Torto Arado, outras obras de Vieira Junior conquistaram a atenção do público e deixaram – além do desejo por novas histórias – a curiosidade de conhecer o autor por trás dos livros.

Os livros de Itamar Vieira Junior carregam um pouco da sua própria história e vivências. Baiano, nascido em Salvador, o escritor é graduado e mestre em Geografia e doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal do Estado da Bahia (UFBA). Durante a graduação foi o primeiro a receber a Bolsa Milton Santos, incentivo para projetos e pesquisas acadêmicas, destinado a alunos de baixa renda do curso de geografia. Da graduação ao doutorado, as pesquisas de Itamar Vieira Junior refletem sobre temas que, futuramente, fariam parte de suas obras literárias.

Temáticas como cidade, campo, território, comunidades étnicas e Estado, são centrais em seus estudos, a exemplo da monografia A expansão de Salvador: a produção do espaço urbano em uma via metropolitana (2005) e da dissertação A valorização imobiliária empreendida pelo Estado e mercado formal de imóveis em Salvador: analisando a avenida paralela (2007). Em sua tese, intitulada Trabalhar é tá na luta: vida, morada e movimento entre o povo Iuna, Chapada Diamantina (2017), o autor discute a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste brasileiro.

Atualmente, Itamar Vieira Junior atua como Analista em Reforma e Desenvolvimento Agrário do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na Bahia, onde desenvolve atividades no Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas. Vieira Junior também já atuou no Incra no Maranhão entre os anos de 2006 e 2009. 

Vivências nordestinas refletidas na literatura

Apesar de ser o seu livro mais conhecido, Torto Arado não é o único sucesso do autor. A estreia de Itamar Vieira Junior na literatura foi em 2012 com o livro de contos Dias, que recebeu o XI Prêmio de Arte e Cultura. Em 2017 lançou outro livro de contos, A Oração do Carrasco, que ficou em segundo lugar no Prêmio Bunkyo de Literatura em 2018, foi finalista do Prêmio Jabuti e vencedor do Prêmio Humberto de Campos da União Brasileira de Escritores.

Lançado em 2019, Torto Arado é o primeiro romance de Itamar Vieira Junior.  A história do livro se passa no interior da Bahia, na região da Chapada Diamantina e por meio do laço que une duas irmãs, Bibiana e Belonísia, o autor aborda questões como religião, relações trabalhistas, a luta pelo território, educação, raça e classe. A narrativa utiliza-se de elementos do realismo mágico e é delineada pela escrita sensível e poética de Vieira Junior.

Os acontecimentos e personagens do livro são parte da experiência do autor com o que acontece ao seu redor e partem também de suas vivências. “Costumo dizer que todo meu percurso acadêmico, científico, além de toda a minha história pessoal e profissional, costumam atravessar minha escrita. Os métodos antropológicos e etnográficos, sobretudo, me permitiram estudar as personagens como sujeitos plenos de vida. Para falar sobre elas, eu precisava conhecê-las.”, explica Itamar Vieira Junior em entrevista para o Portal de Pós-graduação em Estudos Étnicos e Africanos da UFBA.

Dedicado às “mulheres, maternas e ancestrais”, Doramar ou a Odisseia: histórias”, publicado em 2021, é um livro de contos que resgata alguns dos contos publicados em A Oração do Carrasco, além de histórias inéditas. Muitas das histórias não se passam em localidades precisas, mas abordam temas caros para Vieira Junior. 

Salvar o fogo é a publicação mais recente do escritor e possibilita que o leitor que acompanha seu trabalho, possa conhecer a família da personagem Maria Cabocla, vizinha de Belonísia em Torto arado. A história se passa no interior da Bahia, no povoado de Tapera do Paraguaçu, e mais uma vez Vieira Junior traz como protagonista uma mulher: Luzia do Paraguaçu. Entre a população, Luzia é vista como uma criatura sobrenatural, no entanto, para ganhar a vida e cuidar de Moisés, ele se torna lavadeira em um mosteiro da região. 

Em entrevista ao Brasil de Fato sobre Salvar o Fogo, o autor conta que “Tanto em Torto Arado quanto em Salvar o Fogo, esse meu olhar se volta para histórias que, para mim, eram muito familiares. Eu estou pensando na minha perspectiva familiar mesmo, nos meus laços de parentesco, nas minhas origens, mas também estou pensando em tudo que eu vivi trabalhando com camponeses e camponesas ao longo do tempo. Então eu não diria que eu dou voz aos silenciados. Talvez eu estivesse mesmo entre eles, afinal, essa é minha origem também”.

Itamar Vieira Júnior e a Feira Literária de Mucugê

A Chapada Diamantina reúne significados especiais para Itamar Vieira Junior. Neste ano, o escritor participará pela segunda vez da Fligê, feira literária que chega à sua sexta edição realizada nas cidades de Mucugê e na Vila de Igatu, região da Chapada Diamantina. De volta à Fligê em 2023, o escritor promove o seu novo livro, Salvar o fogo.

Em 2019, Itamar Vieira Junior foi destaque na edição da Fligê, com o lançamento de Torto Arado. Ao participar da mesa “Ânimo de invenção e tradição literária”, Itamar relatou a influência que a Chapada Diamantina exerce em sua literatura. “Costumo dizer que a Chapada me deu chão e alma para escrever essa história e é a primeira vez que estou aqui com o livro, depois dele ter atravessado o oceano. Trazer essa história que é tão nossa e que é sobre me deixa muito honrado”, afirma.

Foto de capa: Mídia Ninja

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