Sem grades e sem máscaras, festejamos o Divino

Por Fábio Agra
Publicado em 07/06/2022

O Site Coreto me fez um convite para escrever uma coluna sobre a festa do Divino deste ano. Há inúmeras questões vivenciadas durante os quatro dias de festa profana que eu poderia pôr aqui neste espaço e somar a tantos outros relatos que surgem constantemente pelas redes sociais. Mas me proponho a trazer outra reflexão a partir de uma distensão temporal e que diz respeito aos nossos espaços públicos de confraternização e felicidade, que nos foram retirados pela pandemia do Covid-19.

Após dois anos sem festejos, a cidade de Poções pôde reviver plenamente sua mais tradicional festa religiosa e profana. Os reencontros, os abraços, os beijos, as danças, os sorrisos nos rostos, a alegria e a livre circulação pela cidade são pontos que nos atrelam a outros tempos de pré pandemia, com exceção ao ano de 2019, quando presenciamos filas se formando para que as pessoas fossem revistadas e grades que impediam o acesso direto à festa por qualquer espaço que não fosse pelos portais montados.

Essa imposição da cultura do medo para que tivéssemos receio de circular dentro da nossa própria cidade, dentro da nossa própria casa, em nome da segurança, espero realmente que tenha sido um ponto fora da curva. E aqui não tem nada a ver com crítica a governo A ou B, ser favorável a um número partidário ou a outro, pois sei que esse tipo de política de segurança está suscetível a ser empregada por qualquer gestor ou gestora a qualquer momento. Tem a ver mesmo com a cidade ter vivenciado em um ano específico da nossa centenária festa do Divino um tipo de cultura que descaracteriza completamente tudo que carregamos para aquela praça e ruas ao longo da vida. Grades e muros de forma geral sempre representam menos segurança e mais segregação. E realmente esse não é nosso perfil de festa que desejamos, pois já há algumas outras segregações produzidas socialmente dentro do circuito e que precisam ser minimamente suprimidas. 

Não podemos deixar que a festa do Divino, em sua manifestação profana, que se traduz em paz e harmonia, em reencontros e a uma ideia de pertencimento comunitário, se transforme em um lugar restrito e fechado onde todos são suspeitos até provarem o contrário. Desta forma, a festa pode tomar ares privativos. Se for para ter uma festa em que o primeiro sentimento é do medo e da insegurança, como em 2019, é melhor repensarmos então a própria festa e a cidade. E foi ótimo não ter esta percepção neste ano.

Quando pensamos nos shows na praça principal e em outros palcos alternativos, no parque de diversões, nas maçãs e uvas do amor, no algodão-doce, no cachorro-quente, nos coquetéis e cervejas, por fim, na confraternização, pensamos justamente na liberdade em andar pela cidade, em atravessar a praça a partir de qualquer ponto. As novas gerações precisam aprender a conviver com a festa em sua mais perfeita liberdade e manifestação.

Que os festejos ao Divino continuem nos proporcionando paz, que possamos continuar presenciando todas as formas de amor, que possamos continuar ouvindo as gargalhadas e os gritos de quem brinca no parque de diversões. Que possamos continuar vivendo nossa harmonia e liberdade sem grades, sem pandemia, vacinados e sem a necessidade de usarmos máscaras para  continuar retribuindo os sorrisos e abraços de nossos amigos e conterrâneos.

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