No terceiro trimestre de 2024, o Brasil atingiu a menor taxa de desemprego em 11 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa de queda de 6,3% até o mês de setembro, e o crescimento interanual da renda habitual média de 3,7%, podem indicar perspectivas otimistas.
O nordeste se destaca com os maiores aumentos de renda por grupos demográficos em relação ao ano anterior, sobretudo com trabalhadores jovens adultos com Ensino Fundamental completo e idade entre 25 e 39 anos. Outro dado que chama atenção é que no terceiro semestre do ano, a renda interanual dos trabalhadores autônomos ou empregados sem carteira cresceu acima de 5%. De forma geral, o Brasil tem mais de 100 mil pessoas com ocupação, mas o Nordeste ainda é a região com a maior taxa de desocupação (8,7%).
Embora o interior da Bahia seja rico em diversidade cultural e econômica, o cenário que se apresenta é complexo. Enquanto algumas regiões vivenciam um crescimento significativo, outras ainda enfrentam desafios históricos relacionados à infraestrutura, educação e acesso a oportunidades.
Apesar dos números, as estatísticas deixam de fora as singularidades desses trabalhadores e territórios, e quando os indicadores gerais são otimistas, ainda é preciso olhar para a realidade de cada lugar. Em Poções, a população ocupada é de apenas 9,70% (IBGE 2022), e seus desafios encontram eco na falta de iniciativas e políticas públicas eficazes.
Os desafios cotidianos
A economia do interior brasileiro enfrenta diversos desafios que impedem seu pleno desenvolvimento. Um dos principais é a alta taxa de informalidade, com muitos trabalhadores atuando sem carteira assinada, principalmente nos setores agrícola, comercial e de serviços.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2022, o Brasil registrou mais de 40 milhões de trabalhadores em situação de informalidade. E quando o marcador de raça aparece, os dados revelam que 62% da população com trabalho informal é negra.
E por que esses dados importam? A informalidade gera insegurança, limita o acesso a direitos trabalhistas e previdenciários, e dificulta a formalização de microempreendedores e trabalhadores. Além disso, a combinação de fatores como a baixa escolaridade – que restringe as oportunidades de emprego e renda – limita o crescimento econômico das cidades do interior. Consequentemente, prejudica a qualidade de vida da população e amplia as desigualdades regionais.
Para o cientista social, Mateus Santana, o que diferencia Poções é o fato do trabalho informal ser maior do que o trabalho formal. “Obviamente que é necessário pesquisas mais profundas para saber onde esses trabalhadores estão e quais atividades desenvolvem. Mas uma das principais preocupações se dá pela falta de garantias que foram conquistadas por meio de movimentos sociais históricos e políticos. O trabalho informal mascara a realidade da situação da população”, destaca.
O trabalhador autônomo e a falácia do “empreendedorismo“
Diante da falta de oportunidades concretas, muitos trabalhadores informais ou autônomos, se veem forçados a buscar soluções para a falta de trabalho formalizado. A palavra “empreendedor” aparece sugerindo uma ascensão dessas pessoas por meio de uma visão de negócios.
Em entrevista à UOL, o sociólogo Ricardo Antunes, destacou que em um país incapaz de preservar o trabalho digno e garantir direitos, a ideia de empreendedorismo se torna um mito. Por isso, é preciso pensar naqueles Microempreendedores Individuais (MEI), que surgem apenas como alternativa para conseguir “empregos” via prestação de serviço, sem nenhum direito assegurado. Outros, sem nenhum tipo de formalização, como é o caso das pessoas que montam barracos e abrem pequenos negócios em um cômodo da casa.
Como olhar para essa realidade?
Há muitas formas de olhar para a realidade do trabalho no interior do Brasil. Em Poções, as dificuldades se apresentam justamente diante da falta de dados e pesquisas que deem conta de examiná-la.
O Lab.uta – Laboratório de Imagens do Trabalho em Poções, é uma iniciativa pioneira nesse sentido. Pois convoca a juventude, muito afetada pela falta de oportunidade de trabalho no município, e que, muitas vezes, se vê forçada a migrar para outras regiões, para observar o cotidiano do trabalho e evidenciá-lo.
As fotografias apresentadas nesta reportagem dão rosto e identidade para os dados publicados pelos institutos. Um município que se movimenta na escassez, quando a realidade se apresenta da forma mais dura possível.
A estudante de ensino médio e participante do projeto, Giovanna Farias (16 anos), lida com a realidade do trabalho em Poções é angustiante para a juventude. “As vezes fico meio preocupada lidar com a realidade do mercado de trabalho em Poções pode ser muito desafiador para os jovens. A escassez de oportunidades interferi muito na experiência”. Com o Lab.uta, Giovanna pode conhecer melhor o que afeta essa realidade, e destaca a importância de aprender sobre os direitos trabalhistas.
Este projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar no 195, de 8 de julho de 2022.