Iniciativa de “Biblioteca Andarilha Pipoca Moderna” incentiva a leitura na educação infantil

Em meio a tantas novidades tecnológicas, despertar o interesse de crianças e adolescentes pela leitura pode não ser uma tarefa fácil, ao mesmo tempo em que o incentivo à leitura tem se tornado  uma das principais ferramentas de transformação social.

Reconhecendo os benefícios que a leitura traz às crianças e adolescentes, a educadora e psicóloga Kátia Borges criou, em agosto de 2017, a Biblioteca Andarilha Pipoca Moderna, na vila de Igatu em Andaraí, Bahia. O projeto tem como objetivo o fomento ao livro e à literatura na região.

Inauguração do projeto na praça da Vila de Igatu, em 2017. Katia Borges em primeiro plano.

Katia Borges é natural de Salvador e se mudou para Igatu em busca da tranquilidade do interior. “Eu decidi já em uma fase mais avançada da vida que eu não queria envelhecer no grande centro urbano, aí eu fiz essa mudança para cá”. Psicóloga de formação, ela conta que precisou mudar de profissão por questões ligadas às possibilidades. “Eu sou filha de mãe solo, de uma família muito humilde em que a herança que ela deixou para mim foi justamente a educação, a partir daí eu resolvi migrar de profissão, até porque na época a psicologia era uma profissão muito elitista e não haviam as possibilidades que hoje há, de um trabalho mais articulado com o social, então eu pego essa experiência [da psicologia] e levo para a escola,” conta.

Assim que chegou em Igatu, Katia Borges foi convidada para coordenar a escola pública da vila, uma escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental I. Com uma vasta experiência em educação e alfabetização, ela começou a articular maneiras de contribuir para uma escola pública com mais qualidade, diversidade, inclusão e democraticidade. “Comecei a pensar em projetos e ações não só para qualificar o ensino e a relação docente com os alunos, mas também de promover o que eu chamo de práticas exitosas dentro de uma perspectiva de uma educação mais transformadora, em que os alunos pudessem ser protagonistas”, diz.

A princípio, a educadora pensou em pegar seu carro e sair pelos povoados, assentamentos e distritos da região levando literaturas, mas descartou a proposta e pensou em criar algo que fosse mais atrativo aos estudantes. Foi quando teve a ideia de pegar um carrinho de pipoca e transformar em uma biblioteca andarilha. 

“Eu tenho um grande amigo de adolescência que também é um grande artista plástico, Marcos Zacariades, ele desenvolveu um trabalho bem interessante de arte em educação aí eu pedi a ele para conceber, do ponto de vista artístico do projeto, um carrinho de pipoca que fosse atraente, chamasse atenção e gerasse curiosidade, principalmente para as crianças que são meu público alvo e assim nasceu a biblioteca andarilha pipoca moderna”, explica Katia Borges. 

O projeto foi pensado para o contexto da educação e desenvolvido na instituição a qual a educadora fazia parte visando contribuir  para o acesso ao livro de uma forma mais estimulante, criar práticas de leituras mais atraentes para alunos do ensino fundamental da vila e também criar um link da escola com a comunidade. “O livro é praticamente, ou era, um objeto muito exótico. Partindo disso, pensamos em atuar nas praças públicas, no caso, no Jardim onde é a concentração da comunidade, e criar hábitos de leitura que pudessem articular as crianças e os jovens da instituição com a população local, ou seja, eles poderiam ler para as pessoas”, explica.

Uma das muitas práticas de leitura e diferencial que incentiva a permanência e interesses das crianças e jovens em estar no projeto é o “sussurros poéticos”, onde os participantes têm a oportunidade de ler um poema no ouvido de outra pessoa por meio de um cone de papelão. “Eu costumo usar muito a ideia de que a leitura sussurrada traz um componente extremamente afetivo que aproxima, é uma coisa de intimidade que cria esse vínculo a partir dos sentidos entre quem faz o sussurro e quem ouve”.

O desenvolvimento do projeto possibilitou aos alunos viagens e experiências únicas. Com o apoio institucional, alunos e professoras puderam viajar para participar de feiras literárias, como a Feira Literária de Cachoeira entre 2017 e 2019.  “Geralmente levavamos só os meninos do 5º ano para viver essa experiência de ir para as feiras literárias, pois eles estariam fazendo um fechamento, um ritual de passagem, já que no ano seguinte eles já iam descer para a cidade sede. Tínhamos alguns critérios: iam não apenas quem podia ler com autonomia, para fazer sussurros, ser desinibido para falar do projeto, mas também alunos que percebêssemos que havia o encantamento pelo livro”, expressa Katia Borges..

Além disso, alunos que participam do projeto desenvolvem o gosto pela leitura, como por exemplo, alguns estudantes, mesmo após sair do ensino fundamental I estão participando do grupo de leitura. “O intuito agora é criar simpatia para que eles fiquem mais à vontade. Eu acredito que lancei algumas sementes e já estou colhendo alguns frutos durante esses sete anos. Agora eu quero que essa árvore cresça, fique grandona e dê frutos”. 

A presença da Biblioteca Andarilha Pipoca Moderna nas feiras literárias despertaram o interesse da população pela ação como um modelo que vale a pena ser copiado e reproduzido. Com isso, Kátia Borges começou a pensar em outras ideias para agregar mais conhecimentos as alunos, foi quando implementou o Cine Escola Carlitos. “Começamos a passar, uma vez no mês, filme que estivesse para além da Sessão da Tarde, dos filmes mais comerciais e trouxessem temáticas que a gente pudesse discutir de uma forma mais horizontal”. 

Com os apoios que o projeto recebe, a educadora conseguiu comprar livros para compor o acervo do Pipoca e assim, colaborar para democratizar ainda mais o acesso à leitura. “O Projeto Pipoca, que continuava tendo ações na praça e dentro da própria escola, começou a ser também um elemento de consulta dos próprios alunos com mais autonomia, porque na biblioteca eles não conseguiriam chegar pegando qualquer livro sem uma mediação”.

Katia também mantém um projeto de uma editora Cartonera, com isso ele também trabalha com os alunos os processos para a confecção de livros, oferecendo oficinas e possibilitando que os estudantes escrevam livros para fechamento do projeto na escola. “Fizemos um livro cartoneiro, foi dar um passo à frente no sentido de que além da formação em leitura do acesso ao livro do prazer pela leitura, os alunos também vão se tornar escritores.


Katia Borges almeja novos horizontes para a Biblioteca Andarilha Pipoca Moderna, como o de levar os estudantes e professores para a Feira Literária do Pelourinho em Salvador-Flipelô. Além do desejo de ver o projeto se multiplicar para outros espaços. “A ideia é justamente que agora possamos ampliar os carrinhos e multiplicá-los para outros espaços e fazer pipocar em outros espaços, projetos como esse”.

Fotos: arquivo Katia Borges

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