Minhas considerações

Sempre questionei muitas coisas no decorrer da minha vida, sendo alguns dos questionamentos verbalizados, já outros não. Hoje, nos meus 31 anos vividos e só 31 anos vividos, consigo me colocar no mundo como alguém que não está aqui só por estar, com isso entendendo qual o meu papel na luta antirracista.

Nasci negra, numa sociedade racista! Apesar de não ter sofrido de forma “escancarada” nenhum preconceito, já ouvi falas e vi comportamentos racistas. Ser mulher, negra, nordestina e lésbica, “talvez” me deixou numa posição de confronto. CONFRONTAR, essa é a palavra! Sempre me vi desafiando, fui forjada na bruta, e em sua maioria as mulheres negras são assim, tem que ser assim.

Temos de levar em consideração que boa parte das mulheres negras, tem no seu cotidiano fatores “que dificultam” sua vida, tais como: baixa escolaridade, baixa renda familiar, saúde precária, problemas socioeconômicos, entre outros, gerando nelas sentimento de descrença e baixa autoestima.

Como se pode ver pelos dados abaixo:

  • Segundo a pesquisa “Visível, invisível” do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 21,5 milhões de mulheres acima de 16 anos já sofreram algum tipo de violência misógina e destas, 65,6% são mulheres negras. 
  • Segundo pesquisa da Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional), 3% nos domicílios chefiados por mulheres – 19,3% em situação de fome e quando falamos de raça a situação é bem similar, pois 64% dos domicílios com pessoas de referências pretas ou pardas sofrem com insegurança alimentar; 18,1% passam fome.  
  • Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres negras recebem 57% menos do que homens brancos, 42% menos do que mulheres brancas e 14% a menos do que homens negros ganham.

Os números são reflexos da má gestão de recursos e da má distribuição deles, problemas esses que vieram nos navios de povos africanos escravizados e que se enraizaram na cultura do nosso país (ser racista, parece piada ((sem graça)), mas é cultural), temos aqui leis e benefícios nas mais diversas áreas, no entanto, estes, em sua maioria, não são concedidos e aplicados com equidade.

Ludmille Amorim – Foto: reprodução

Os debates em torno de políticas e ações afirmativas tem papel fundamental para pessoas negras acessarem de forma igualitária os vários espaços de poder, que permita novos projetos de vida e consolidar sonhos, além de diminuir a disparidade racial na sociedade.

A responsabilidade de promover esse debate não deve ser só de pessoas negras. A sociedade deve internalizar e reconhecer o papel do racismo e como ele opera nas nossas relações, assim como quais ações devem ser adotadas nas mais diversas esferas para, em um futuro próximo, dizermos que o racismo está superado e que pessoas negras possam viver de forma plena os seus sonhos, as trajetórias profissionais e suas vidas.

Ludmille Amorim é Bacharela em Direito e, atualmente é advogada na secretaria de Assistência Social.

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